
Hoje, 30 de maio, é o aniversário da administradora do blog. Mãe, esposa, bailarina, aderecista e maquiadora artística nas horas vagas e só para amigos. Profissionalmente além de médica, é Historiadora formada e apaixonada. Há 45 anos, nascia essa pessoa. Nascia 545 anos depois da morte de Joana D’Arc. Nesse post venho homenagear as "Joanas" cariocas e de todo Brasil, que entendem que o mundo pode ser melhor para as mulheres e que elas não precisam ser queimadas vivas nas fogueiras da misoginia e do feminicídio.
Joana d’Arc foi uma camponesa que teve participação relevante na Guerra dos Cem Anos, liderando as tropas de Carlos VII em conquistas importantes. Capturada pelos ingleses, foi julgada e condenada à morte na fogueira por bruxaria, sendo executada aos 19 anos de idade. No século XX, teve sua imagem reabilitada e hoje é um dos grandes nomes da história francesa.
Joana d’Arc nasceu em Domrémy, vila no nordeste da França, no ano de 1412. Atualmente, a vila onde ela nasceu se chama Domrémy-la-Pucelle, como forma de homenageá-la, pois pucelle significa “donzela” e uma das formas pelas quais ela ficou conhecida foi “Donzela de Orleans”. O dia do nascimento de Joana é alvo de debate e muitos acreditam que tenha sido em 6 de janeiro. Era uma camponesa e filha de Jacques d’Arc e Isabelle Romée. Os pais dela possuíam uma pequena terra, de onde tiravam seu sustento, e Jacques ainda cumpria funções como coletor de impostos local. Joana d’Arc foi a filha caçula do casal, que ao todo teve cinco filhos. Sua criação foi bastante católica.
No século XV, a França enfrentava as consequências da Guerra dos Cem Anos, um conflito dinástico que se estendeu ao longo de 116 anos e que foi marcado por alguns intervalos. O desentendimento entre franceses e ingleses se iniciou em 1328, quando Carlos IV, rei francês, faleceu e não deixou herdeiros diretos para assumir o trono. O rei da Inglaterra, Eduardo III, alegou ter direito ao trono francês, porque possuía descendência com Carlos IV por via materna. Acontece que a possibilidade de um monarca inglês ser coroado como rei da França não agradou à nobreza francesa, que temia que isso fosse se transformar em perda de autonomia.
Assim, a pretensão de Eduardo III foi rejeitada com base na Lei Sálica, lei francesa que proibia que mulheres e seus descendentes assumissem o trono do país. Assim, Felipe VI, parente do falecido rei pela linhagem masculina, foi coroado rei francês, o que criou um certo desgaste nas relações entre ingleses e franceses. e acabou motivando o início da Guerra dos Cem Anos em 1337. A Inglaterra não parava de conquistar novos territórios franceses, enquanto o governo da França não conseguia estabilidade: a coroa transitou entre Felipe VI, Carlos V, Carlos VI e Carlos VII.
A guerra com a Inglaterra se relacionava com Joana d’Arc da mesma forma como se relacionava com a vida de milhares de outros camponeses. O conflito trazia destruição para a terra; a terra destruída produzia menos; uma produção reduzida causava fome, e a fome enfraquecia uma população paupérrima, trazendo-lhe doenças. Além disso, os camponeses viam suas vidas sendo ameaçadas toda vez que um ataque inimigo acontecia. A própria vila em que Joana d’Arc nasceu já tinha sido atacada por borguinhões (aliados dos ingleses). A criação religiosa somada à vontade de ver a guerra acabar transformou Joana d’Arc em um dos grandes nomes da história francesa.
Joana d’Arc alegava que tinha visões e ouvia as vozes do arcanjo Miguel, da Santa Catarina de Alexandria e da Santa Margarida de Antioquia. Nessas aparições sobrenaturais, ela era orientada a tomar parte na guerra contra os ingleses para expulsá-los da França e para garantir a coroação de Carlos VII, o rei da França. Segundo Joana d’Arc, as aparições sobrenaturais aconteciam desde que ela tinha 13 anos. Com o tempo, esses episódios foram ficando mais claros e frequentes, e D’Arc foi acreditando que se tratavam de mensagens divinas – apesar de médicos especularem hoje em dia que a garota sofria de alguma condição médica, como esquizofrenia ou epilepsia. Aos 16, ela decidiu tomar parte na guerra. Assim, ela pediu para ser levada para Vaucouleurs, local onde existia uma guarnição francesa liderada por Robert de Baudricourt. Lá ela foi falar com Baudricourt para que ele arranjasse um transporte que a levasse a Chinon para encontrar o rei.
O comandante se negou a dar ouvidos a Joana d’Arc, mas a camponesa conseguiu convencer a população local de seu propósito e logo muitos exigiam que Baudricourt fizesse o que Joana d’Arc pedia. Assim ele fez e então Joana d’Arc se preparou para encontrar o rei francês. Antes de partir para visitar o rei Carlos VII, D’Arc cortou seu cabelo curto e vestiu-se como um homem. Após 11 dias de viagem, a jovem chegou até o reino francês. Ela conseguiu uma reunião privada com o rei, mas como Carlos VII, o líder máximo da França, aceitou receber uma adolescente analfabeta que alegava receber mensagens divinas em seu gabinete e como um monarca daquela magnitude acreditaria nas palavras da menina e permitiria que ela liderasse parte de seu exército em uma guerra sangrenta, ainda é um grande mistério. Assim, Joana d’Arc participou ativamente da Guerra dos Cem Anos, mas entre os historiadores existe certa polêmica acerca do grau de envolvimento dela.
Muitos historiadores desacreditam que ela tenha lutado no campo de batalhas. De acordo com eles, ela apenas cumpriu papéis que envolviam a montagem da estratégia e preparação das tropas, assim como a motivação dos soldados. Mas seus conselhos eram aceitos e tidos como divinos. Apesar disso, Joana d’Arc foi fundamental para duas vitórias expressivas da França: em Orleans e em Reims.
Reims, inclusive, era o local onde tradicionalmente os monarcas franceses eram coroados. A conquista dessa cidade permitiu a coroação oficial de Carlos VII, em 17 de julho de 1429. Apesar das vitórias expressivas, Joana d’Arc também conheceu derrotas, como foi no caso do fracassado cerco de Paris, ainda em 1429. De toda forma, o envolvimento da jovem quebrou um ciclo de derrotas francesas.
Em 1430, borguinhões capturaram Joana d’Arc durante a Batalha de Compiègne. Ela foi vendida para os ingleses e permaneceu aprisionada, pois seria levada para julgamento. Os ingleses queriam tirar a credibilidade da francesa para tornar a coroação de Carlos VII sem validade. A Santa Inquisição foi utilizada para julgá-la.
O julgamento estendeu-se por quatro semanas e dezenas de acusações se acumularam. No final, o fato de usar roupas masculinas e a alegação de que ouvia vozes se tornaram os fatores para a sua condenação. Em virtude da acusação de bruxaria (as vozes que ela ouvia foram tidas como vozes emitidas pelo demônio), Joana d’Arc foi condenada à morte na fogueira.
A execução aconteceu no dia 30 de maio de 1431, em praça pública, na cidade de Rouen. Conta-se que no dia ela recebeu o sacramento da Eucaristia, foi vestida de branco e levada para a sua execução. Joana d’Arc foi queimada viva, e os relatos contam que ela gritava por Jesus. Na ocasião, ela tinha 19 anos.
Carlos VII não interveio no processo de Joana d’Arc e não tentou salvá-la do destino que ela teve. Entretanto, depois que ela faleceu, ele procurou atuar para que ela tivesse o seu processo anulado, pois ter a sua imagem ligada com a de uma mulher condenada por bruxaria não era bom para seu reinado. Assim, ele obteve do papa Calisto III a anulação da condenação de Joana d’Arc.
A reabilitação da imagem de Joana d’Arc se completou no século XX, quando ela foi beatificada e canonizada. Sua beatificação aconteceu em 1909, e a canonização foi realizada pelo papa Bento XV, em 1920. Esse acontecimento foi parte de um esforço da Igreja Católica de reatar laços com a França, país que foi extremamente secularizado a partir da Revolução Francesa. Atualmente, a Santa Joana d’Arc é considerada padroeira nacional da França e existe até uma data comemorativa para ela: 30 de maio.
REFERÊNCIAS
SILVA, Daniel Neves. "Joana d’Arc"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia/joana-d-arc.htm. Acesso em 30 de maio de 2021.
https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2018/05/joana-darc-relembre-historia-da-guerreira-e-santa-francesa.html
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