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A FOFOCA DE ALCOVA IMPERIAL MAIS COMENTADA E CONHECIDA - O CASO DE TITILA E DEMONÃO



O romance de Dom Pedro I e Domitila de Castro e Melo, a Marquesa de Santos, iniciou-se em 1822 e durou sete anos. Entre 1827 e 1829, o Palacete do Caminho Novo, que mais tarde se tornou conhecido como Solar da Marquesa, foi cenário do romance. Da Quinta da Boa Vista, residência do Imperador, Dom Pedro podia avistar o solar.

A marquesa teve a sua vida marcada por ter sido amante do imperador d. Pedro I, período no qual obteve títulos e riquezas. O caso amoroso do imperador com Domitila foi muito famoso na época e teve influência direta no cenário político do Brasil.

Durante o romance de Domitila com d. Pedro I, a imperatriz Leopoldina demonstrou sua insatisfação com ele. Anos depois do falecimento da imperatriz, d. Pedro I decidiu afastar-se da amante para que ele pudesse casar-se novamente. A marquesa também adquiriu um segundo casamento, em 1842, e passou os últimos anos de sua vida fazendo caridade.

Domitila de Castro Canto e Melo nasceu em São Paulo, em 27 de dezembro de 1797. Ela foi filha de uma família tradicional e influente dessa cidade. Seu pai, João de Castro do Canto e Melo, era um militar de carreira respeitável, e sua mãe chamava-se Escolástica Bonifácia de Oliveira e Toledo Ribas.

Ao todo, Domitila teve cinco irmãos: João, José, Francisco, Maria Benedita e Ana Cândida. Teve também uma outra irmã, Fortunata, mas ela não sobreviveu à infância. Domitila, assim como suas irmãs, teve uma educação tradicional, mas não se sabe detalhes a respeito dessa fase de sua vida.

Aos 15 anos de idade, o pai de Domitila arranjou-lhe um casamento com um oficial do Corpo de Dragões de Vila Rica, o alferes Felício Pinto Coelho de Mendonça. A união aconteceu no dia 13 de janeiro de 1813, quando ela ainda tinha a mesma idade. Na ocasião, seu marido tinha 22 anos de idade.

Esse casamento era importante para a família de Domitila, pois Felício ocupava um cargo importante como militar e tinha chances de crescer na hierarquia. Além disso, ele tinha dinheiro e prestígio social. O casamento deles, no entanto, foi um desastre completo, pois Felício era alcoólatra, viciado em jogos e violento com sua esposa.

Após casar-se, Domitila mudou-se para Vila Rica, em Minas Gerais, com seu marido. Nesse casamento ela teve três filhos: Francisca Pinto Coelho de Mendonça e Castro, Felício Pinto Coelho de Mendonça e Castro, e João Pinto Coelho de Mendonça e Castro, esse último faleceu na infância. Os maus-tratos e as agressões constantes de seu marido fizeram com que Domitila abandonasse Vila Rica, retornando para a casa de seus pais, em São Paulo, com seus dois filhos. Isso aconteceu em 1816, e no ano seguinte, seu marido conseguiu uma transferência para Santos, onde pôde ficar perto de seus filhos.

Em 1818, ela foi convencida a retornar para seu marido sob a promessa de que ele melhoraria seu comportamento. Entretanto, Felício continuou viciado na bebida, seguiu gastando todo seu dinheiro em jogos, e as agressões rapidamente tornaram a acontecer. Como Domitila demonstrou querer o divórcio, Felício tentou matá-la, esfaqueando-a duas vezes: uma na coxa e outra na barriga. Ele também alegou que cometeu o ato porque desconfiava que estava sendo traído, o que não era verdade.

Domitila levou quase dois meses para curar-se de suas feridas, e então abandonou definitivamente seu marido, abrindo um processo de pedido de divórcio. Esse pedido era um tabu na época, mas ela contou com o apoio de sua família, e, cinco anos depois, em 1824, foi atendida, muito devido à interferência do imperador no caso.

Quando Domitila conheceu Pedro de Alcântara, ele ainda não havia sido coroado imperador do Brasil. Nosso país ainda nem havia se tornado independente, mas o encontro dos dois deu-se a poucas semanas do grito do Ipiranga, quando d. Pedro proclamou a independência, em 7 de setembro de 1822. Eles se conhecerem em São Paulo, em agosto de 1822, num contexto complicado: o futuro imperador do Brasil ia essa cidade colocar fim nos desentendimentos que existiam com o governador referentes à postura desobediente de seu regente para com as ordens enviadas de Lisboa. Nessa ocasião aconteceu o encontro entre os futuros amantes.

Existe registro de um dos primeiros encontros entre d. Pedro e Domitila trazido pelo pesquisador Paulo Rezzutti. Esse registro, escrito pelo marido de uma prima de Domitila, fala dos flertes de d. Pedro e de suas tentativas de impressioná-la. Paulo Rezzutti também expõe que, durante a viagem na qual aconteceu o grito da independência, Domitila estava presente já como amante do imperador

D. Pedro I tinha fama de "mulherengo", e já tinha tido 2 amantes francesas e acredita-se, havia sido também amante da irmã de Domitila que ostentava o título de Baronesa de Sorocaba, e tivera um filho ilegítimo do imperador. Não se sabe se Domitila tinha conhecimento do filho ou do romance com sua irmã, embora acredite-se que ela veio a saber posteriormente.

Quando o caso amoroso de d. Pedro e Domitila iniciou-se, ele já era casado com d. Leopoldina (casaram-se em 1817) e tinha quatro filhos com ela. O enlace extraconjugal foi motivo de desgosto para Leopoldina pelo resto de sua vida. A imperatriz, de acordo com registros deixados, era apaixonada pelo imperador e foi colocada em segundo plano durante o envolvimento dele com Domitila. O amor fulminante ocorreu muito em conta do espírito livre de Domitila, que tinha uma personalidade completamente diferente de Leopoldina. Mesmo sendo um personagem controverso da história brasileira, a Marquesa sempre se recusou a se sujeitar ao autoritarismo do homem da época.

Existem dezenas de cartas escritas por d. Pedro I para Domitila, com ele a chamando carinhosamente de Titília e exagerando nos detalhes íntimos, sempre as assinando como Demonão ou Fogo Foguinho. Nelas, o imperador também desenhava o próprio membro sexual e enviava seus pelos pubianos. O relacionamento de Domitila com d. Pedro I gerou cinco filhos ilegítimos, e desses um nasceu morto e dois morreram na infância. As duas filhas que chegaram à idade adulta foram Isabel Maria de Alcântara Brasileira, conhecida como duquesa de Goiás, e Maria Isabel II de Alcântara Bourbon, conhecida como condessa de Iguaçu. Os títulos nobiliárquicos das duas foram concedidos por d. Pedro I.

Domitila mudou-se para o Rio de Janeiro em 1823, e seu caso com d. Pedro rendeu-lhe títulos e riquezas. Ela se tornou primeira-dama da imperatriz, algo encarado como uma grande humilhação por d. Leopoldina, uma vez que a amante de seu marido conquistava um ofício tão importante. Em 1825, Domitila recebeu o título de viscondessa de Santos, e no ano seguinte, tornou-se marquesa de Santos. O mais curioso é que Domitila ganhou o título de marquesa de Santos, sem jamais ter pisado na cidade litorânea. A referência da cidade no título da Marquesa, acredita-se ter sido uma afronta e ironia à três irmãos que eram muito influentes na política do primeiro reinado. O irmãos Andrada e Silva eram de Santos e José Bonifácio foi o que mais se destacou entre eles. Como eles criticavam a atitude infiel do Imperador, e eles eram de Santos, provavelmente vem daí o fato de ter a ela concedido o título de Marquesa de Santos.

Além disso, sua família também se beneficiou de sua influência com o imperador. Ele dava grandes somas de dinheiro para suas filhas com a amante, além de ter dado títulos e cargos importantes para familiares da marquesa de Santos. Quando o pai de Domitila faleceu, em 1826, o imperador arcou com todas as despesas do funeral. Seu pai também foi presenteado com um título nobiliárquico, ele era o visconde de Castro.

Nem tudo foram flores no caso de Domitila com o imperador. O infortúnio da imperatriz e a sua morte prematura, em 1826, prejudicaram a imagem da marquesa de Santos. Quando Leopoldina morreu, parte da população passou a acusar Domitila de envenenamento. A primeira esposa de Dom Pedro I era admirada por muitos, muito em virtude de seu papel na luta pela Independência. Ela era má vista na Corte e até teve propriedades suas apedrejadas. O próprio imperador entrou em descrédito por conta da forma como a imperatriz morreu. Após o falecimento da Imperatriz Leopoldina, a Marquesa sonhava ver os filhos que tivera com o imperador legitimados, o que os tornaria príncipes de sangue. E certamente sonhava se tornar Imperatriz. Porém, d Pedro I procurou uma segunda esposa e casou-se com Amélia de Leuchtenburg, e, para salvaguardar seu novo matrimônio, o imperador pôs fim na relação com Domitila em 1829. Ela então retornou para São Paulo, adquirindo, anos depois, uma propriedade que ficou conhecida como Solar da Marquesa.

Depois do fim de seu caso com d. Pedro I, a marquesa instalou-se em São Paulo e, anos depois, teve um segundo casamento. Ela engatou um relacionamento com o militar Rafael Tobias de Aguiar em 1833, e casou-se com ele em 1842. Tobias de Aguiar era um homem de muitas riquezas e que assumiu cargos importantes na política de Sorocaba. Desse casamento, Domitila teve seis filhos, dos quais quatro chegaram à idade adulta. Ao longo de sua vida, ela teve 14 filhos, com oito deles alcançando a idade adulta.



Domitila, sempre lembrada por seu caso de amor com Pedro I, é esquecida quanto ao seu envolvimento nas questões nacionais. Na corte, doara, como “brasileira, e brasileira paulista”, grande quantia à Guerra da Cisplatina (1825-1828). Quarenta anos depois, durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), abrigou em sua fazenda a tropa que marchava para Mato Grosso, presenteando soldados e oficiais com dinheiro. Foi uma das pessoas que ajudou a Santa Casa de Misericórdia a ter a sua primeira sede própria. Doou dinheiro para a construção da capela do Cemitério da Consolação e de uma casa para dispensário médico. Protetora dos estudantes de Direito, cuidava destes quando adoeciam e recebia-os para refeições e festas em seu palacete na antiga rua do Carmo, atual Roberto Simonsen. Em seus salões, declamou o estudante e poeta Álvares de Azevedo e tocou, entre outros, o pianista Emilio Correa do Lago. Sob os tetos do palacete do Carmo, e às vistas da respeitável matrona, centenas de casamentos entre moças paulistas e futuros bacharéis foram arranjados.

Devido a uma enterocolite aguda, a Marquesa de Santos faleceu em seu solar no dia 3 de novembro de 1867, às vésperas de completar 70 anos. Está sepultada no Cemitério da Consolação, cemitério este que se localiza em terras que a ela pertenceram, e por ela foram doadas para a criação do cemitério.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


























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