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A NOVA REVOLTA DA VACINA - O NOVO DESAFIO DA SAÚDE PÚBLICA



As programas governamentais de vacinação foram criados para facilitar o acesso da população à imunização e deixá-la mais eficaz. O Programa Nacional de Imunizações (PNI), por exemplo, elaborado em 1973 pelo Ministério da Saúde, passou a coordenar as ações de imunização desenvolvidas pela rede pública de saúde brasileira. O PNI formula, constantemente, metas de extermínio de doenças da realidade brasileira, tentando abranger seus cuidados por todos os municípios do país.

Apesar das grandes vantagens sociais (evitar enfermidades e suas consequências) e econômicas (priorizar o investimento mais barato na prevenção e poupar nos tratamentos caros), a imunização pode gerar efeitos que alimentam dúvidas sobre a segurança e efetividade da vacina na vida dos brasileiros com baixo acesso às informações, os quais são a maioria. Sinais e sintomas após o procedimento, como febre ou dor na região de aplicação, são chamados de eventos adversos. Tendo isso em vista, um grande número de brasileiros duvida e até evita o procedimento.

Por falta de informações seguras, os brasileiros se expõem ao risco de contaminação e de aumento dos casos de doenças já controladas. Os pais que vacinaram seus filhos demonstram desconhecimento sobre a lei que obriga o ato, e afirmam que sua ação é resultado maior de uma tradição e de um costume familiar e cultural da vacina. Já os pais que não os vacinaram, são aqueles mais cientes sobre as leis do país sobre obrigatoriedade da vacinação, mas não o fazem por crenças pessoais. Na maior parte dos casos, a opção pela não vacinação foi tomada pela esposa e seguida pelo marido. A decisão do indivíduo de não vacinar seu filho e a si mesmo não traz perigo somente a eles, mas para as pessoas em seu convívio. Tal fato contribui para a redução da imunização populacional em geral e também para o aumento da possibilidade de surtos ou bolsões de infecção.

Os efeitos colaterais decorrentes dessas substâncias, apesar de mínimos, influenciam, de maneira considerável, para que ocorra o surgimento do receio por parte das pessoas no ato de se vacinar. Esses fatores contribuem, assim, para uma maior adesão ao movimento antivacina. Os principais aspectos para o engrandecimento desse movimento são o medo dos efeitos deletérios, o baixo nível de escolaridade e renda, a desinformação dos próprios profissionais de saúde e o descaso da divulgação sobre o ato de vacinar.

As crenças e os argumentos dos movimentos antivacinas mantiveram-se inalterados nos dois últimos séculos, mas as novas mídias sociais facilitaram a disseminação das informações contra as vacinas. As vacinas, que combatem as consequências devastadoras que as doenças infecciosas impuseram à humanidade por séculos, representam o investimento em saúde com melhor custo-efetividade. Nas últimas décadas, o avanço observado na tecnologia de produção, no aprimoramento e no desenvolvimento das vacinas resultou numa oferta significante de novos produtos, eficazes e seguros. Para que atinjam plenamente seu potencial em saúde pública, é necessário que as vacinas sejam aceitas, obtenham a confiança do público alvo e atinjam amplo e adequado uso.

As pessoas e grupos que declaram preocupações com a segurança e necessidade da aplicação das vacinas ocorrem em todo o mundo. Tal fenômeno não é recente ---surgiu logo após a introdução da vacina contra a varíola no fim do século XVIII e continuou através do tempo. Os argumentos e as crenças dos grupos antivacinas não sofreram grandes alterações nos dois últimos séculos, mas a capacidade de disseminar a informação cresceu muito em eficácia e velocidade nas últimas décadas.

A ‘‘hesitação vacinal’’ (vac-cine hesitancy) ou recusa de vacinação a despeito da disponibilidade de serviços de vacinas é um fenômeno complexo, contexto-específico e que varia no tempo, nos lugares e com as vacinas específicas. Mesmo que reconhecidamente eficazes, as vacinas não estão livres de apresentarem riscos e, como qualquer outro medicamento, é difícil prever sua reação em cada indivíduo. As reações em seres humanos podem ser variáveis e muitas vezes indesejáveis, pois a composição das vacinas inclui desde antígenos (responsáveis pelo desenvolvimento de anticorpos específicos contra o agente infeccioso), conservante (mercúrio), adjuvante (alumínio), derivados de formaldeído, antibióticos e vários outros produtos oriundos do processo de infecção de animais para a obtenção de vírus vivos

Entre a classe alta, os argumentos mais utilizados para a hesitação vacinal foram: “a doença que a vacina previne não é grave ou é de fácil tratamento”; “a doença não é frequente ou já foi eliminada”; “a vacina não é eficaz”; “a imunidade adquirida pela doença é melhor que a pela vacina”, “a qual induz uma imunidade temporária”; e “a abordagem da medicina não tradicional, como a homeopatia, possui mais confiança”. Ainda existe dúvida

Sobre a real necessidade das vacinas, preocupações com a segurança das vacinas, medo de possíveis eventos adversos, conceitos equivocados sobre a segurança e eficácia das vacinas, preocupações com a possível ‘‘superexposição do sistema imune’’, experiências anteriores negativas com vacinas, desconfiança sobre a seriedade da indústria produtora de vacinas e o sistema de saúde. Questões filosóficas e religiosas podem estar envolvidas.

Há quase três décadas já se percebem destaques na mídia sobre eventos adversos ligados a imunização contra a Difteria/tétano/coqueluche, a hepatite B13,14 e, principalmente, a vacina tríplice (MMR em países de língua inglesa)15, que talvez tenham influenciado a “aversão filosófica” dos pais que aderiram ao movimento antivacinação. Talvez o tema mais polêmico e de maior repercussão, envolva a associação entre a vacina triplice contra sarampo, caxumba e rubeola (MMR) e o autismo.

Indicios incisivos foram publicados no Lancet (periódico médico inglês), em 1998, pelo Dr. Andrew Wakefield et al.20, que descreveram uma condição inflamatória intestinal que exporia crianças vacinadas as toxinas mercuriais causadoras do autismo. Seu artigo originou reações enfáticas no meio científico em vista das excessivas extrapolações e a questionável metodologia empregada.

O General Medical Council inglês, após minuciosa análise do trabalho, publicou um relatório de 143 paginas no qual afirmava que os autores agiram de forma irresponsável e antietica. Wakefield teve seu registro profissional cassado na Inglaterra – também por conta de evidências do conflito de interesses na sua associação com advogados que incitavam as familias as indenizações e da descoberta de uma patente de vacina antissarampo supostamente mais segura registrada em seu nome. As evidências de quebra de decoro ético levaram o Lancet a publicar uma retratação. Apesar de todas as evidencias refutadoras, dúvidas ainda se alimentam nos ciclos de atenção gerados por debates frequentemente divulgados pelas mídias.

Outra questão foram as denúncias de elevadas concentrações de thimerosal (um conservante usado desde 1930) nessas vacinas como fator de exposição ao risco do autismo, apesar de já se saber que este não se acumula no organismo, ao contrário de sua forma nociva – o metil mercurio. O Thimerosal havia sido retirado das preparações em 2001 e, apesar disso, a identificação de novos casos de autismo relacionado a isso ainda se manteve em crescimento.

Propostas de intervenções para diminuir as dúvidas da população, esclarecer mitos e melhorar a confiança nas vacinas têm sido feitas.. Há que se pensar em esforços de intervenção junto às famílias com a finalidade de combater os argumentos sem base científica e obter uma adesão adequada para manter doenças que já foram erradicadas e doenças que estão em eliminação. Há necessidade de propor estratégias públicas com a finalidade de aumentar as coberturas de vacinação, principalmente nas populações adultas, em que muitas vezes é o público que demonstra maior resistência em se vacinar e que é importante, por meio deste público, promover a vacinação coletiva. Tais estratégias devem partir dos profissionais que atuam na estratégia saúde da família com a finalidade de melhorar o conhecimento da população em geral sobre as vacinas, importância, segurança, doenças relacionadas. É necessário aproveitar as consultas de forma geral e realizar orientações acerca do uso das vacinas e encaminhar os pacientes para a sala de vacina e manter os cartões de vacina atualizados. É necessário ainda, utilizar os meios de comunicação de forma coerente e implementar orientações sobre as vacinas e sobre as doenças contra as quais elas protegem, bem como planejar, executar e avaliar as atitudes de vacinação, uma vez que todos são responsáveis pelo processo de trabalho em saúde.

Apesar da incontestável consolidação das vacinas para a prevenção e a erradicação de doenças, bem como da implementação de políticas públicas para o acesso universal, a existência dessa nova “Revolta da Vacina” ainda faz parte dos desafios ético-jurídicos para a promoção da saúde pública


Referências


Menezes, Regina Célia de. As crenças e os argumentos dos movimentos antivacinas mantiveram-se inalterados Jornal de Pediatria (Versão em Português), 94 (2018) 574-581. doi:10.1016/j.jpedp.2018.05.006


Nassaralla, Anna Paula Amaral Nassaralla; Doumit, Arthur Marinho; Melo, Caio Freitas; Léon, Lucas Caldas; Vidal, Rafael Augusto Reis; Moura, Léa Resende. Dimensões e consequências do movimento antivacina na realidade brasileira RESU – Revista Educação em Saúde: V7, suplemento 1,2019


Castiel, Luis David; Griep, Rosane Harter; Silva, Paulo Roberto Vasconcellos A sociedade de risco midiatizada, o movimento antivacinação e o risco do autismo. DOI: 10.1590/1413-81232015202.10172014


Pina, Pamela Cristine. Os Movimentos Antivacinais e a recusa das vacinas: Uma Revisão Integrativa. Trabalho de conclusão de curso de graduação, em Enfermagem do Centro Universitário São Lucas. Porto Velho. 2019

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