Como foi falado no post das habitações, as casas no Brasil Colônia e Império apresentavam uma sala, alcovas (quartos sem janelas ) e cozinha. Aí vc se pergunta – mas, e os banheiros ???
Pois é, nessa época, a maior parte das casas não contava com banheiros, água corrente ou algum outro tipo de instalação sanitária. Por isso, os moradores faziam as necessidades em penicos e outros recipientes de metal ou porcelana.
Esses objetos ficavam sob as camas ou em armários até a manhã seguinte, quando eram esvaziados pelos escravos em grandes tonéis que comportavam todos os dejetos dos moradores da casa. Os grandes tonéis, por sua vez, eram carregados nas costas por escravos, que os levavam até o mar ou a algum rio distante e por lá os despejavam. Com isso, vinha a sina dos “tigres”, nome dado aos escravos encarregados desse serviço.
Parte do conteúdo desses tonéis, continha ureia e amônia, vazava e deixava marcas brancas sobre a pele negra, parecidas com listras. Por essa reação química, as marcas se pareciam com as do animal — daí o apelido em tom pejorativo dos "tigres" ou "tigrados". O cheiro dos tonéis, obviamente, não era agradável e fazia com que as pessoas não se aproximassem dos "tigres" enquanto os carregavam. Esses negros eram cativos ou escravos de ganho, que prestavam serviços a diversas famílias como forma de obter um rendimento extra para o dono ou para si mesmos.
Essa prática era muito comum na capital da época, Rio de Janeiro, pois fossas eram proibidas na cidade antiga dada a proximidade do lençol freático. Há registros da utilização dessa mão de obra no Rio até a década de 1860. A facilidade de dispor de tigres retardaram a criação das redes de saneamento nas cidades litorâneas brasileiras Além da desumanização desses escravos, essa forma de descarte já mostrava um descaso grande com a questão do escoamento dos dejetos.
Os vestígios do período colonial e imperial, contudo, continuam vivos até hoje no país. O fim da escravidão, e com ela o desaparecimento dos chamados "tigres", não acabou com os problemas dos mais pobres e refletem a construção da sociedade atual em relação ao tema. Os escravos se transformaram em negros pobres, de periferia, que também não têm acesso a saneamento. Só na década de 1860, por iniciativa de Dom Pedro II é que se dá início ao saneamento básico no Brasil.
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