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AS ALDEIAS TUPINAMBÁS E OS BAIRROS DO RIO DE JANEIRO -PARTE 2

Foto do escritor: danielericcodanielericco

Nesse post falaremos das principais aldeias tupinambás que ficavam no interior da Baía, na margem esquerda


Takûarusutyba e o engenho da Taquara



Essa taba histórica do Rio de Janeiro, a aldeia do grande ajuntamento ou sítio dos Takûarusus; ou, em português, o Taquaraçuzal era um lugar onde existiam muitos e grandes taquarais grossos, fonte inesgotável de bambus para as mais diversas atividades tribais. A taba teria preferido aquele local justamente por ser próximo de tão preciosa árvore para a sobrevivência da comunidade.

É a primeira taba citada como “no interior do continente a partir da costa ocidental”. A localização de Takûarusutyba deve ser procurada em uma extensa área geográfica, no caminho entre os atuais bairros de Irajá e Campo Grande. Toda essa região era ocupada por tabas tupinambás, das quais conhecemos os nomes das mais importantes, como Sapopéma, Tantimã, Payó, Kotyuá, Okarantĩ e Sarigûé.

Chegava-se a Takûarusutyba seguindo pelo antigo peabiru nativo, que começava na antiga “costa de Inhaúma”, hoje ocupada pelo conjunto de comunidades da Maré. Depois de passar por Eirámirĩ, atravessava-se a tapera de Pirakãiopã ou tomava-se outra direção ao interior do continente no caminho de Piráûasu, da mesma forma que hoje se segue a avenida Dom Helder Câmara. Depois de cruzar pelo vale do atual bairro de Cascadura, pegava-se outra trilha à esquerda em direção a outro vale, no lugar atualmente chamado de Praça Seca, e dali se continuava atravessando uma cadeia de montanhas mais baixas, justamente onde os maciços da Tijuca e da Pedra Branca se encontram. Finalmente chegava-se a outro imenso vale, como em um mundo perdido, cercado das mais belas montanhas de florestas e que tem início justamente no bairro que conhecemos hoje como a Taquara, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Takûarusutyba era a maior aldeia dessa área, cujos domínios atravessavam todas as terras que estavam abaixo das serras que a circundavam, tais como os atuais bairros do Pechincha, Tanque, Freguesia, Curicica e as demais regiões banhadas pela lagoa de Jacarepaguá, incluindo as atuais áreas da Barra da Tijuca e do Recreio. Os tupinambás ali viviam da grande fartura proporcionada pela bacia do rio Grande e seus afluentes que desaguavam nas enormes lagoas que separavam aqueles baixios do mar.

Dois anos após a derrota dos tupinambás do Rio de Janeiro, passou a funcionar um engenho de açúcar, dos mais antigos do Rio de Janeiro, que ficou conhecido anos mais tarde – veja que interessante – como o Engenho da Taquara. As taperas – os próprios lugares das aldeias destruídas, abandonadas e suas clareiras – serviam como ponto de partida para a construção de moradias, em torno dos grandes engenhos que surgiam no início da colonização portuguesa. A sesmaria original que se estendia da atual rua Edgard Werneck, passando pelo Largo do Tanque e projetando-se até a vertente oriental do maciço da Pedra Branca, foi ampliada de tal forma que passou a compreender toda a baixada de Jacarepaguá, estendendo-se desde a Joatinga ao pontal de Sernambetiba, desde o oceano até os atuais bairros de Deodoro e Cascadura. A casa-grande do Engenho da Taquara foi reconstruída em 1738 e existe até hoje, podendo ser visitada, ao lado da capela da Exaltação da Santa Cruz, uma das mais antigas de Jacarepaguá.


Okarantĩ, a bela aldeia do grande terreiro


Ocarentin, também muitas vezes grafada como Okarantin ou Okarantim. O seu nome é bem claro: temos na primeira parte a palavra okara ou ocara, que era como chamavam os tupinambás a área aberta entre as malocas das aldeias, o pátio, a praça, o grande terreiro de convivência das festas e rituais tribais.

Okarantĩ, a taba do grande Terreiro Branco, era a maior taba do Rio de Janeiro no século XVI. Sobre a localização da taba de Okarantĩ no Rio de Janeiro, em sua obra, Léry declarou que esta ficava distante cerca de “10 a 12 léguas” do forte dos franceses na atual ilha de Villegagnon, aproximadamente 40 a 48 quilômetros de separação entre esses dois locais. Da aldeia do Taquaruçuzal temos uma distância de aproximadamente 20 quilômetros em linha reta a partir do forte, o que seria o meio do caminho até a distância de 40 quilômetros para encontrar Okarantĩ. A área corresponde ao grande planalto alcançado após o imenso vale que se estende entre os maciços do Mendanha e da Pedra Branca, o que aponta para a região atual de intersecção entre os bairros de Bangu, Santíssimo e Campo Grande. Naquele local os tupinambás teriam erguido uma grande taba que tinha vista para todo o vale onde habitava ao menos um conjunto de seis outras aldeias relativamente próximas pelo interior das terras da Guanabara (Takûarusutyba, Sapopéma, Kotyuá, Tantimã, Payó e Sarigûé). Os milhares habitantes da aldeia da “Grande Ocara Alva” podem ter sido aqueles que se refugiaram em uma única aldeia e que teriam fundado, segundo a tradição oral, o povoado de Sepetiba, quando as tropas de Salvador de Sá, (governador do Rio de Janeiro na época) resolveram avançar no terreno.


Sapopéma, raiz da Guanabara


O nome de Sapopéma resistiu ao longo da história da urbanização da cidade pelo menos até o início do século XX quando era nome de toda uma grande região. Não há dúvidas de que era uma das grandes tabas nativas do Rio de Janeiro do século XVI.

Sapopéma era próxima da aldeia Okarantĩ, onde atualmente se encontram os bairros de Bento Ribeiro, Deodoro e Vila Militar. Sapopéma era o nome que os antigos tupinambás do Rio de Janeiro davam às grandes árvores dos arredores de sua gigantesca taba, com imensas raízes de contraforte.

Com a retirada dos índios, passou a existir o Engenho Sapopemba, cujos canaviais se estendiam até os limites do Maciço de Gericinó em Bangu. O nome dessa antiga taba ancestral dos nativos do Rio de Janeiro ainda permaneceu por quase quatrocentos anos. Quando a estrada de ferro Central do Brasil chegou àquela região, em 1859, a estação foi inaugurada com o nome de Sapopemba, passando a se chamar Deodoro nos primeiros anos do século XX, em homenagem ao proclamador da República Brasileira.



Kotyuá, a armadilha tupinambá


Afirma-se textualmente que Cotiva achava-se a 2 léguas de distância de Okarantĩ. O sufixo ûá quer dizer algo que reafirma a interpretação do nome de “cilada, armadilha” trazido por koty. O sufixo ûá quer dizer o “canto” (por exemplo, de uma casa) ou “fundo” (por exemplo, de um vaso). Nessa interpretação Kotyuá seria “a taba da cilada do canto” ou ainda a aldeia da “armadilha funda”. O nome tinha relação com a característica geográfica do lugar onde o morubixaba escolhera para os seus habitarem, na busca por uma posição topográfica que os colocassem em situação de vantagem de defesa perante uma invasão guerreira inimiga.

Tomando como base a localização da aldeia de Okarantĩ, que estava erguida em algum lugar do vale onde hoje se fundem os bairros de Santíssimo e Campo Grande, na Zona Oeste, temos um raio de busca a partir desse ponto de aproximadamente 8 quilômetros. São as 2 léguas apontadas por Jean de Léry. Considerando que localização era entre as tabas onde hoje é Gericinó e Pavuna. Segundo fontes históricas seria aproximadamente onde hoje é o bairro da vila Kennedy


O enigma de Tantimã


Tantimã, no ano de 1557, estava situada em algum lugar entre as aldeias da “Grande Okara”, Okarantĩ e a “aldeia Cilada”, Kotyuá. Para os estudiosos de tupi antigo, seu nome era um enigma e a reconstituição de seu significado era impossível.

Essas terras tinham como ponto de referência algum lugar perto de Gericinó, que era uma região muito mais vasta na segunda metade do século XVI do que o bairro atual, que é apenas uma parte das terras que permaneceu com esse nome originário. Jericinó, era o nome pelo qual os tupinambás designavam o maciço montanhoso de origem vulcânica isolado na Baixada Fluminense. Atualmente é conhecido como Serra de Madureira, no território de Nova Iguaçu, e Serra do Mendanha em Campo Grande no município do Rio de Janeiro.


No canto do Payó




O canto do payó é tão baixinho que mais parece um sussurro. No meio da floresta é preciso concentrar-se para ouvir seu grunhido grave, meio surdo, parecido com o do pombo urbano. Esse animal extremamente arisco era bastante querido pelos tupinambás. Suas cores eram admiradas pelos nativos do Rio de Janeiro. O payó é um pássaro totalmente preto e carrega no papo uma grande mancha escarlate. Eram justamente as cores do jenipapo e do urucum que os tupinambás utilizavam nas pinturas corporais para rituais e festas. O payó era inspiração para a ornamentação corporal entre alguns dessa tribo.

A taba Pavo ficava justamente no lugar que hoje todos conhecemos como o bairro de Pavuna, um dos locais mais antigos do Rio de Janeiro português. Note mesmo que o nome Pavuna é uma corruptela do nome da antiga taba de Payó. O rio Pavuna nasce na serra do Mendanha e corre em direção à Baía de Guanabara, passa pelo atual bairro da Pavuna – a estação terminal da linha 2 do metrô carioca – e encontra-se com os rios Meriti e Acari antes de desaguar na altura do final da Ilha do Governador. O rio hoje é um marco dos limites da cidade do Rio de Janeiro com os municípios de Nilópolis, Nova Iguaçu e São João de Meriti.


REFERÊNCIAS


Silva, Rafael Freitas da. Rio Antes do Rio. . Editora Relicário. 4ª edição. Rio de janeiro, 2019








 
 
 

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