Datado de 1743, O Arco do Telles é o que resta da antiga residência da família Telles de Menezes.Tudo começou em 1743, logo após a construção da Casa dos Governadores (atual Paço Imperial), quando a região da Praça XV começou a tomar do Morro do Castelo o posto de área mais próspera e importante da cidade. Astuto, o juiz português Antônio Telles Barreto de Menezes, comprou alguns terrenos por ali e construiu um enorme casarão. Seu objetivo era alugar imóveis para os comerciantes de classe média que começavam a ocupar o próspero entorno do largo. Só que o projeto tinha um problema: a construção bloquearia o acesso do novo centro comercial ao mercado de peixes. A solução proposta pelo engenheiro José Alpin foi abrir um arco para permitir a passagem do Largo para a Travessa do Comércio.
Nos anos 1790, a antiga Casa de Câmara e Cadeia precisou passar por uma reforma e transferiu para um dos imóveis do casarão dos Telles de Menezes toda a documentação referente aos primórdios da cidade, incluindo registros de imóveis e cobrança de foros (um tributo semelhante ao nosso atual IPTU). Até que, certa madrugada, um misterioso incêndio começou em uma loja de objetos usados curiosamente chamada “O caga negócios” e se alastrou pelo casario, destruindo toda a papelada. Do edifício sobrou apenas o que passou a ser conhecido como o Arco do Teles.
No mesmo ano, Bárbara Vicente de Urpia, uma jovem e bela portuguesa, chegava ao Brasil. Ela passou a viver no Rio de Janeiro com seu marido, Antonio de Urpia. Uns dizem que eles teriam se mudado porque ela teria matado a sua irmã envenenada, outros dizem que ela teria traído o marido com um nobre português e eles teriam sido enviados para cá por causa disso.
Rapidamente, a sua beleza chamou a atenção da corte carioca e ela passou a atrair os olhares de importantes homens da época, mas foi com um homem pobre, um negro livre, que ela se envolveu. Cega de paixão, e decidida a viver seu romance, Bárbara teria matado seu marido a sangue frio, com uma punhalada na nuca, enquanto ele dormia para poder viver esse amor.
Consta que as autoridades, pressionadas pelo Vice-Rei a encontrar um bode expiatório, teriam acusado e executado um homem que vivia pelas ruas — cigano ou negro, segundo registros divergentes — pelo assassinato do fidalgo.
Porém o crime dela aqui no Brasil e a morte da irmã em Portugal passaram a gerar desconfiança e os salões cariocas se fecharam para ela. Bárbara passou a viver com o amante na região da Cidade Nova. Na virada do século XIX, Bárbara teria então assassinado também o amante, em meio a uma tensa discussão, agravada por ciúmes e por questões financeiras. Outra vez, Bárbara livrou-se de qualquer acusação conseguindo não pagar pelo crime.
Sozinha, ela passou a se prostituir e se tornou conhecida como Bárbara dos Prazeres. Como era muito bonita, atraía diversos clientes, tornando-se a prostituta favorita da elite do Rio de Janeiro, de ricos comerciantes, funcionários da Coroa e até de Bispos. Com a chegada da corte real portuguesa, em 1808, passou a atender a nobreza e, dizem, até mesmo membros da Família Real. Foi viver na requintada Rua do Lavradio, onde recebia visitas sigilosas de homens misteriosos e elegantes.
Bárbara acabou contraindo sífilis, lepra e varíola, o que fez a sua clientela diminuir. Com o rosto marcado pela doença, sua beleza foi desaparecendo e já não conseguia mais dinheiro, pois os homens passaram a repeli-la.
No início do século XIX, ela passou a trabalhar no Arco do Teles, no Centro do Rio de Janeiro. Naquela época, o lugar estava extremamente decadente e tinha se tornado um refúgio de prostitutas, usuários de drogas e mendigos, em meio a ruínas de um incêndio ocorrido em 1790
Como não agradava mais aos homens, “Bárbara dos Prazeres” — cujo apelido se deveu a uma imagem de Nossa Senhora dos Prazeres que havia no beco, e que Bárbara escolhera como sua protetora — foi buscar ajuda com feiticeiros e praticantes de magia negra. Saía dessas “consultas” com receitas macabras. Devia banhar-se com sangue fervido de animais, a fim de curar sua lepra e tornar-se jovem e bela novamente. Porém, nada parecia funcionar. Foi então que um feiticeiro lhe sugeriu algo que seria supostamente infalível: em vez de animais, Bárbara deveria usar crianças para banhar-se em seu sangue ainda fresco e morno.
Em 1828, uma série de crianças começou a desaparecer e seus corpos nunca foram encontrados. O pânico espalhou-se na Corte. Crianças já não andavam mais desacompanhadas e muitas famílias passaram a trancar seus filhos e filhas em casa, com medo do pior. Foi aí que, segundo os relatos, Bárbara teria passado a roubar recém-nascidos na “roda dos enjeitados” da Santa Casa de Misericórdia, uma portinhola giratória usada para que os frutos de partos indesejados pudessem ser deixados ao cuidado das freiras. O abandono de bebês na Santa Casa diminuíra drasticamente, o que logo se associou à crueldade da “bruxa”. Dizem que Bárbara pendurava as crianças pelos pés com uma corda, as esfaqueava e ficava embaixo delas para banhar-se no sangue. Segundo alguns linguistas foi justamente nessa época que teria surgido a famosa expressão: “cuidado que a bruxa está solta!”.
Em 1830, uma mulher foi encontrada morta na baía localizada ao lado da Praça XV. Seu rosto estava desfigurado, porém as pessoas passaram a acreditar que o corpo fosse de Barbara dos Prazeres, já que o sumiço de crianças tinha cessado.
No início do século XX a travessa e o arco voltaram a ser valorizados. Na década de 20, a família de Carmen Miranda morou durante seis anos no sobrado de número 13 da Travessa do Comércio, onde a mãe dela vendia comida. Já no século XXI, o Arco do teles tornou-se referência por sua vida noturna, sejam os happy hours nos diversos bares e botecos da Rua do Ouvidor, pelas festas nos casarões da Travessa do Comércio, sambas e eventos noturnos.
REFERÊNCIAS
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