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CEMITÉRIOS DO RIO DE JANEIRO - UM DIA SERÁ SUA MORADA


Para muitos, os cemitérios são lugares mórbidos e deprimentes, já que são o lar das pessoas que se foram. Uma parcela sociedade possui medo e repulsa da morte. No Rio colonial os mortos ligados a alguma irmandade religiosa eram enterrados dentro das Igrejas ou nos seus adros, enquanto os indigentes, pobres ou "pretos novos" eram enterrados em covas coletivas em terrenos disponíveis.

O primeiro cemitério a céu aberto da cidade, privativo da colônia inglesa, foi o Cemitério dos Ingleses, de 1811. A partir de 1850, o imperador Dom Pedro II autoriza construções de outros cemitérios a céu aberto numa tentativa de melhorar as condições de salubridade —enterrar as pessoas dentro das igrejas passou a gerar um grande transtorno, devido ao espaço e as condições sanitárias em que eram expostos por conta das epidemias que assolavam o Rio de Janeiro. Em meados do século XIX foram criados os grandes cemitérios abertos a todos os cidadãos, de qualquer religião (tanto é que existe uma "ala judaica" no Caju, túmulos positivistas, sem cruz, no S.J. Batista, etc.): São Francisco Xavier (o “Cemitério do Caju”), São Francisco de Paula (o “Cemitério do Catumbi”) e São João Batista.


Cemitério dos Ingleses




Durante todo o período colonial no Brasil, as inumações foram feitas dentro das igrejas, ou, quando muito, em catacumbas anexas. Tal hábito começou a declinar com a chegada da Corte portuguesa, fugida de Napoleão, em 1808, e sobretudo com a abertura dos portos às nações amigas, entenda-se Inglaterra. Foi numa encosta do morro da Providência, na Gamboa — o mesmo que, em sua outra face, veria nascer a primeira favela após o desmobilizamento das tropas da guerra de Canudos, sendo por isso também conhecido como morro da Favela — voltada para o mar, que surgiu o Cemitério dos Ingleses, o primeiro a céu aberto do Rio de Janeiro e um dos primeiros do Brasil.

A maior parte dos britânicos que chegaram ao Brasil eram anglicanos e protestantes. Então, eles não podiam ser enterrados no interior das igrejas católicas, como era costume na época. Logo, foi pedido a Dom João VI um terreno para a construção de um cemitério. Pelo Tratado de Amizade e Comércio, assinado entre o príncipe regente D. João e o rei Jorge III, no dia 19 de fevereiro de 1810, ficava permitido "o enterramento de vassalos de Sua Majestade Britânica, que morressem nos territórios de Sua Alteza Real o príncipe Regente de Portugal, em convenientes lugares, que seriam designados para este fim, não se perturbando, de modo algum, por qualquer motivo, os funerais e as sepulturas dos mortos". O primeiro enterro foi registrado no dia 15 de janeiro de 1811.

O Cemitério, que ficava perto do mar, na região da Gamboa ainda isolada do restante da cidade, tinha um atracadouro próprio para navios que traziam ingleses que morriam atravessando o mar para chegar ao Brasil. A construção valorizou a área, que passou a ser ocupada por muitas pessoas com alto poder aquisitivo. O Cemitério, ainda, serviu de cenário para vários artistas, que retrataram e descreveram suas belas paisagens.

A partir do Século XX, com o aterramento para a construção do Porto do Rio de Janeiro, a região onde fica o Cemitério perdeu a vista para o mar e se desvalorizou no ponto de vista imobiliário. O cemitério foi tombado pelo Governo Estadual, e, hoje em dia, é administrado pela representação diplomática britânica, sob a fiscalização da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro.


Cemitério do Caju





Com 182 anos, é um dos cemitérios do RJ mais conhecidos. Famoso por conter três necrópoles em um único espaço e também por ser de orientação judaica

Quase todos os cemitérios foram abertos depois das hecatombes da febre amarela, a partir de dezembro de 1849. O do Caju é anterior. Foi instalado em 1839 por José Clemente Pereira, numa gleba comprada a José Goulart, para enterrar os indigentes e escravos até então sepultados nos terrenos de Santa Luzia, onde se ia erguer o atual hospital da Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro. Foi chamado Campo-Santo do Caju. Seu primeiro defunto foi inumado em 1840. Em 18 de outubro de 1851, o Cemitério do Caju foi o local em que a criança Vitória, filha de uma escrava, foi enterrada, o último ano em que houve enterro de escravos no local

Em 1851, ano de sua inauguração, o nome foi mudado para o de Cemitério de São Francisco Xavier. Naquele ano o campo-santo é ampliado e juntaram-se às terras de José Goulart, as da antiga Fazenda do Murundu, de Baltasar Pinto dos Reis. Em 1858 desmembra-se o terreno e o Cemitério São Francisco Xavier alcançou o tamanho de 441.000 m² que pode ser verificado ainda hoje. Tornou-se, deste modo, a maior necrópole do Estado.

Nessa vasta área, na Avenida Brasil, estão os quatro cemitérios - Cemitério de São Francisco Xavier, Cemitério da Ordem Terceira do Carmo, Cemitério da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência e Cemitério Comunal Israelita do Caju. Possui sepulturas imponentes, pavilhões com fachada de granito que remete ao estilo pórtico, ideia originada da Grécia. Várias personalidades do império foram sepultadas no Cemitério do Caju. Ainda que o local tenha sido ambiente para o sepultamento de escravos em um primeiro período, membros da nobreza também foram enterrados no local. Um grande exemplo é o Visconde do Rio Branco.


Cemitério do Catumbi

O terreno onde seria construído o Cemitério de São Francisco de Paula foi adquirido pela Venerável Ordem Terceira dos Mínimos de São Francisco no dia 12 de maio de 1849, comprado de um certo Dionísio Orioste. O arquiteto José Maria Jacinto Rebelo foi o autor do projeto geral.

Seu primeiro sepultamento foi realizado no dia 20 de maio de 1850 e já no seu primeiro ano de funcionamento foram enterrados cerca de três mil corpos, a imensa maioria de vítimas da epidemia da febre amarela que então assolava a Corte, além de 323 irmãos da Congregação, como atestam os documentos da Ordem. Em seguida foram para lá transladados cerca de 450 restos mortais, na sua maior parte da nobreza brasileira que estavam sepultados na igreja de São Francisco de Paula.

O cemitério continuaria sendo o destino final de boa parte da nobiliarquia brasileira por conta de sua localização privilegiada, próxima de Santa Teresa, Andaraí e Tijuca, bairros ocupados pela aristocracia carioca. O mais célebre enterro já ocorrido no Cemitério do Catumbi foi o do Duque de Caxias, em maio de 1880. Sua tumba permaneceria ali até 23 de agosto de 1949, quando seus restos foram exumados e trasladados para um panteão.

Após a Proclamação da República, o cemitério continuaria servindo aos moradores das regiões próximas. A partir da década de 1950, com o processo de proletarização da Zona Norte e a favelização dos morros próximos, o cemitério acompanhou a decadência do bairro do Catumbi. Atualmente, diversas favelas cercam o campo santo, sendo comuns os episódios violentos ocorridos dentro do cemitério e a violação e depredação das sepulturas. Atualmente, partes elevadas do cemitério encontram-se interditadas, depois que chuvas fortes ocorridas no início de 2010 destruiram um muro de arrimo e diversos sepúlcros. Alguns mausoléus também encontram-se em ruínas.


Cemitério São João Batista




Situado na rua General Polidoro, na Zona Sul do Rio de Janeiro, sendo o maior da área. Ele é conhecido como “cemitério das estrelas” por muitos famosos serem enterrados lá

O Cemitério de São João Batista foi inaugurado, oficialmente, em 4 de dezembro de 1852, no dia que foi enterrada uma menina com menos de quatro anos, de nome Rosaura, filha de Cândido Maria da Silva. Nos anos seguintes, até 1855, foram feitos mais 400 sepultamentos. A maioria desses de vítimas de uma epidemia de febre amarela.

Posteriormente, o Cemitério, projetado pelo arquiteto Francisco Joaquim Béthencourt da Silva, passou a receber restos mortais de outros cemitérios e igrejas. Aí pode ter começado a fama de última morada dos famosos. Lá estão as criptas da Academia Brasileira de Letras (dos “imortais”), dos soldados brasileiros mortos durante a Primeira Guerra Mundial, dos aviadores do Brasil, dos marinheiros do Encouraçado São Paulo mortos durante a Revolução de 1924 e dos veteranos da Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Além de abrigar belíssimas obras em gesso, mármore e bronze, o São João Batista, sem dúvida, é o Père Lachaise carioca: nele estão sepultados diversas personalidades, como o escritor José de Alencar, o pintor Cândido Portinari e a cantora Carmem Miranda. Além de Santos Dumont, Vinícius de Moraes, Chacrinha, Clara Nunes, Cazuza, nove ex-presidentes da República, Vicente Celestino, Evaristo da Veiga, José de Alencar, Benjamim Constant, Floriano Peixoto, Gustavo Capanema, Oswaldo Aranha, Machado de Assis, Ari Barroso, Nelson Rodrigues, Francisco Alves, Miguel Couto, o escultor Rodolfo Bernardelli, Luis Carlos Prestes, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Cazuza, Clara Nunes, Chacrinha, Jardel Filho.

Por mais estranho que pareça, o cemitério é uma atração turística a parte e nele ocorrem visitações públicas, orientadas por guias. Além disso, vários fãs de famosos visitam os túmulos no dia de finados



Candido Portinari


Chacrinha

Carmem Miranda

Tom Jobim

Santos Dumont

Nelson Rodrigues


Mortos da Primeira Guerra

Aviadores

Elke Maravilha

Cazuza

Academia Brasileira de Letras

Clara Nunes




REFERÊNCIAS


Rodrigues, Cláudia. CRIAÇÃO DOS CEMITÉRIOS PÚBLICOS DO RIO DE JANEIRO ENQUANTO “CAMPOS SANTOS” (1798-1851) Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. n.8, 2014, p.257-278






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