
Mantendo uma tradição histórica de ter um monumento religioso em um ponto elevado das cidades, desde os primeiros povoamentos o Corcovado sempre foi cobiçado pelos católicos como local ideal para a construção de uma estátua religiosa.
"Há uma tradição católica, nascida na idade medieval, que busca sempre a construção de um marco da igreja em um ponto mais alto da cidade. É uma forma de fazer com que todos que moram no local vejam que o catolicismo está presente ali. Com o Rio, não foi diferente", explica o historiador Paulo Reis, especialista na história do Rio de Janeiro, com passagens pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Instituto Pereira Passos e integrante do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá.
Ainda no século 16, os primeiros portugueses chamaram a montanha de 710 metros de altura de Pináculo da Tentação, uma referência à montanha onde se deram as cenas de tentação sofridas por Jesus Cristo nas mãos do demônio no Evangelho de Mateus, capítulo 4, versículo 8. Já no século 18, o cume passa ser chamado de Corcovado. pela semelhança do acidente geográfico com a corcova de um camelo.
Desde tempos muito antigos, os índios que habitavam o território carioca já escalavam o Corcovado. No entanto, a primeira expedição oficial à montanha é liderada pelo imperador Dom Pedro I em 1824. A empreitada, que resultou na instalação de uma "estação telegráfica" no topo, com o auxílio de bandeiras, foi registrada em texto e imagens pelo pintor francês Jean-Baptiste Debret.

Debret 1824
Trinta e cinco anos depois, em 1859, ao ver o Corcovado, o padre francês lazarista Pierre-Marie Boss defende a construção de uma imagem de Cristo no local. No entanto, mesmo com a construção da estrada de ferro do Cosme Velho, que facilitava a chegada de visitantes ao topo da montanha, a ideia seria esquecida nas três décadas seguintes.
O assunto voltaria à tona apenas em 1888, quando no alto do Corcovado já havia sido construído o mirante Chapéu do Sol, erguido por ordens do então imperador Dom Pedro II e, àquela altura, um dos locais recorrentes de passeio para a elite carioca. Desejando homenagear a princesa Isabel pela recém-assinada Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, um grupo de frequentadores da corte sugeriu a construção de uma estátua dedicada à nobre na parte mais elevada da montanha. A imagem se chamaria “Isabel redentora”. A princesa agradeceu a intenção, mas rejeitou a homenagem pois para ela, Cristo era o único verdadeiro redentor dos homens. Ela ordenou o início dos estudos para a construção de uma imagem do Sagrado Coração de Jesus no Corcovado. Porém, com a Proclamação da República no ano seguinte, a ideia foi abandonada. A proposta do padre francês só começou a materializar-se nos preparativos para o centenário da Independência do Brasil, celebrado em 1922.

Mirante Chapéu do Sol
Heitor da Silva Costa, engenheiro e arquiteto venceu um concurso promovido por um grupo de católicos em 1921. Foi necessário um abaixo-assinado de 20 mil mulheres, lideradas pela escritora Laurita Lacerda para conseguir a autorização do governo republicano para a obra., devido a resistência do então presidente Epitácio Pessoa. A arquidiocese do Rio de Janeiro organizou uma campanha de arrecadação de fundos que mobilizou não só o Rio de Janeiro, mas todo o Brasil. Toda a construção do Cristo foi financiada com o dinheiro das doações dos brasileiros.
Heitor da Silva Costa buscou parcerias na França para a obra. Para fazer os cálculos estruturais, contratou o engenheiro Alberto Caquot e para fazer a estátua, o escultor Paul Landowski, grande expoente do movimento art déco. O monumento foi construído no Brasil, exceto a cabeça e as mãos, que foram moldadas em Paris, na França por Landowski e enviadas para o Brasil de navio em tamanho original.


Projeto Inicial
A escultura foi reproduzida em concreto armado e revestida em pedra-sabão, que foi cortada em milhares de triângulos. Esses mosaicos foram colados à mão sobre um tecido e, depois, aplicados na estátua por pastilheiros. Inicialmente a ideia era representar Jesus Cristo com uma cruz na mão esquerda e um mundo na mão direita. Após refletir, e contando com a ajuda do pintor Carlos Oswald, Heitor decide que, para ser visto de mais longe, o Cristo teria o tronco ereto e os braços abertos. Dessa forma, quem olhasse a estátua de perto, veria a figura do Cristo. Já o observador distante perceberia uma cruz cristã. Outra decisão estética importante no processo de criação da imagem - o rosto e o olhar do Cristo estariam voltados para baixo, em direção ao rio, como se a estátua estivesse observando a cidade o tempo inteiro.

A única parte projetada para o interior da construção é o coração do Cristo Redentor, moldada no peito da estátua em 1929, medindo 1,30 metro. O interior é composto por 12 platôs, ligados por escadarias, formando andares que se abrem nos braços e na cabeça. O monumento seria preparado para resistir a ventos de até 250 km/h.
Por fim, no dia 12 de outubro de 1931, data dedicada à celebração de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil, a estátua do Cristo Redentor é inaugurada.

Inauguração em 1931
O Cristo Redentor encontra-se de braços abertos, formando uma cruz, e tem 38 metros de altura, o que equivale a um edifício de 13 andares. Desse total, 30 metros são do monumento e oito do pedestal. Cada braço tem área de 88 metros quadrados e o pé mede 1,35 metro. Somente a cabeça pesa 30 toneladas.
Considerada a maior estátua em estilo Art Déco do mundo, Cristo se transformou em uma das principais referências visuais do Rio e do Brasil. A imponência da obra em um dos locais mais elevados da cidade se transformou em cartão-postal carioca de maneira quase natural. Trata-se de um marco cultural, de identificação da cidade do Rio de Janeiro.
A relevância cultural do monumento é reconhecida de forma oficial em 2008, quando a estátua é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Um ano antes, em uma eleição global que contou com mais de 100 milhões de votos, a imagem foi eleita uma das sete novas maravilhas do mundo, junto com Coliseu de Roma (Itália),Chichén Itzá (México), Machu Picchu (Peru), Muralha da China (China), As Ruínas de Petra (Jordânia) e o Taj Mahal (Índia).

Segue vídeo da TV Brasil contando a história com lindas imagens do Cristo Redentor e sua vista
TV Brasil - Caminhos da reportagem - Cristo Redentor: do alto dos 90
Referências
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-10/caminhos-da-reportagem-conta-hoje-historia-do-cristo-redentor
TANCREDI, Silvia. "História do Cristo Redentor"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/historia-cristo-redentor.htm. Acesso em 12 de outubro de 2021.
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/10/10/cristo-redentor-a-historia-da-persistencia-de-uma-ideia-e-da-construcao-do-maior-simbolo-do-rio-que-faz-90-anos.ghtml
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