No ano de 1938, o então presidente da FIFA, Jules Rimet, visitou o Rio e aceitou a candidatura brasileira para sediar a Copa do Mundo de 42. Após o fim da II Guerra Mundial, que adiou os mundiais de 42 e 46, o Brasil foi escolhido como a sede do próximo campeonato, em 1950. Os políticos da época viram a necessidade de construir um grande estádio na então capital federal, a altura do evento que se aproximava.
As obras de construção do Maracanã começaram em 2 de agosto de 1948. O espaço onde o Estádio foi erguido era um terreno do Derby Club onde eram disputadas corridas de cavalos. A ideia era fazer um grande campo para a Copa do Mundo de 1950. Cerca de dois mil operários atuaram na construção. Os arquitetos responsáveis pela elaboração do projeto foram Waldir Ramos, Raphael Galvão, Oscar Valderano, Orlando Azevedo, Pedro Paulo Bernardes Bastos e Antônio Dias Carneiro Feldman.
Derby Clube
O projeto vencedor previa um estádio para 155.250 pessoas, sendo 93 mil lugares com assento, 31 mil lugares para pessoas em pé, 30 mil cadeiras cativas, 500 lugares para a tribuna de honra e 250 para camarotes. O estádio ainda contaria com tribuna de imprensa com espaço para vinte cabines de transmissão, trinta e dois grupos de sanitários e trinta e dois bares. No total, a área coberta do estádio atingiria 150 mil m², com altura total de 24m.
Sua inauguração deu-se ainda carregando o nome de Estádio Mendes de Moraes ou Estádio Municipal do Derby, com a realização de uma partida de futebol amistosa entre seleções do Rio de Janeiro e São Paulo, vencida pelos paulistas por 3 a 1. O meio-campista da equipe carioca Didi, do Fluminense, foi o primeiro autor de um gol no estádio e o goleiro Osvaldo Pisoni foi o primeiro a levar um gol.
Ficou claro que a Copa de 1950 era um projeto político. Ele é bem anterior a Copa de 1950 – era um projeto que começou no Governo Vargas (1930-1945) que tinha toda uma ideia de nacionalismo e usava o esporte para isso. São Paulo já tinha o Pacaembu, que era o maior estádio da América do Sul na época. Surgiu então o questionamento de que o Rio de Janeiro, enquanto Capital Federal, deveria ter um estádio da mesma proporção.
A ideia de erguer o estádio foi criticada com dureza por Carlos Lacerda, na época deputado federal e adversário político de Marechal Ângelo Mendes de Moraes, então prefeito do Rio, que era Distrito Federal. Lacerda reclamava dos gastos e, também, da localização. O jornalista e político dizia que se fosse para fazer o Estádio, que fizesse em outro bairro.
Maracanã é o nome de uma ave: Maracanã-guaçu. Também é oriundo do Rio Maracanã, que cruza a Tijuca passando por São Cristóvão, desaguando no Canal do Mangue antes do deságue na Baía de Guanabara. Em língua tupi, a palavra maracanã significa "semelhante a um chocalho. Contudo, depois que o Maraca ficou pronto, em 1950, o bairro passou a ter a mesma alcunha do Estádio. O nome oficial é Mário Filho, em homenagem ao jornalista (irmão de Nelson Rodrigues), que contribuiu muito para a popularização do futebol.
Quando foi inaugurado, o Maracanã era o maior estádio do mundo e comportava quase 200 mil pessoas. Depois de uma ampla reforma ocorrida em 1999, visando a realização do Mundial de Clubes FIFA de 2000, o Estádio teve sua capacidade reduzida para 103.022 pessoas. Depois o Maracanã voltou a ficar fechado de abril de 2005 a janeiro de 2006 para reformas para a solenidade de abertura dos Jogos Pan-americanos. Com a reforma feita para a Copa do Mundo de 2014, o estádio passou a ter apenas um lance de arquibancadas e a capacidade de público passou a ser de 78 mil lugares. E durante a Copa do Brasil, o Estádio recebeu sete jogos, incluindo a final. Com isso, tornou-se o segundo estádio do mundo a receber duas finais de Copa – o primeiro foi o Estádio Azteca, no México.
O jogo mais marcante da história do estádio, até então, aconteceu na final da Copa de 1950, diante do Uruguai, com o Brasil sendo derrotado por 2 a 1, diante de 199.854 torcedores (considerado o maior público da história do Estádio). Mais tarde, essa derrota acabou sendo batizada como “Maracanazzo”. Outro jogo histórico no Maracanã foi entre Vasco e Santos, em 19 de novembro de 1969, vencida pelos paulistas por 2 a 1, quando Pelé marcou o milésimo gol, numa cobrança de pênalti
O Maracanã também já foi palco de grandes shows e outros eventos não esportivos. Em 26 de janeiro de 1980, Frank Sinatra levou ao estádio 180 mil pessoas. Em 1983, o recorde de público em shows foi batido. O Kiss levou 250 mil pessoas ao Maraca.
Mais que um templo do futebol brasileiro o Maracanã faz parte da identidade do Rio de Janeiro e dos cariocas. Desde a sua construção o estádio se misturou a vida do povo do Rio. O entorno do estádio sempre foi repleto de bares que servem como ponto de encontro para amigos antes de shows e jogos ou apenas um bom passeio na região.
Suas arquibancadas moldaram o ambiente de estádios Brasil afora, sobretudo representando o povo e sua diversidade cultural por meio da famosa geral do Maraca que, pelo processo de elitização do estádio na recente copa de 2014, deixou de existir. O geraldino passou a ser a representação do povo brasileiro em sua relação de paixão com o futebol.
Ainda que os megaeventos esportivos – Pan de 2007, Copa de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016 – tenham sido épicos no lado esportivo da coisa,, o “padrão Fifa”, junto das conhecidas ganancia, corrupção e politicagem brasileiras, levaram a uma modificação quase total do Maracanã, a um custo que superou 2,5 vezes o valor orçado no inicio das obras.
Localizado no bairro do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro, o estádio tem seu endereço oficial a rua Professor Eurico Rabelo, sem número. Em seus arredores, encontram-se a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o CEFET Celso Suckow da Fonseca e a sede a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro.
A estrutura de acesso, por meios de transporte, ao Maracanã dá-se pela existência de estações de trem e metrô homônimas na avenida Radial Oeste, hoje av. Rei Pelé, em frente ao estádio. Para andar das estações até a entrada do estádio, existem passarelas para atravessar a avenida. O estádio também conta com estacionamento próprio, porém, devido ao baixo número de vagas, é comum o estacionamento por parte de torcedores tanto nas calçadas das ruas quanto no estacionamento da UERJ. O Maracanã ainda possui uma ciclovia que o circula externamente, onde são frequentes passeios de bicicleta, caminhadas e corridas realizados pelos moradores do bairro.
O acesso para o público ao interior do estádio dá-se por quatro entradas, duas para o setor das arquibancadas e duas para o das cadeiras inferiores. Para as arquibancadas, as entradas são popularmente conhecidas como "Bellini", devido à presença de uma estátua que homenageia o futebolista Bellini, capitão da Seleção Brasileira vencedora da Copa do Mundo de 1958, e "UERJ", do lado oposto, por causa da proximidade com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Esta entrada é por onde os espectadores tem acesso ao metrô. As entradas pelas cadeiras dão-se pelos portões 18, próximo à entrada do museu do Maracanã, e entre o Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Maracanãzinho, e 19, do lado oposto.
O estádio do Maracanã possui três níveis para os seus espectadores, o inferior, o superior e o dos camarotes. A partir da conclusão das obras que introduziram cadeiras em todo o nível inferior, aquela área ficou conhecida como o setor das "cadeiras inferiores" ou "antiga geral". No andar de cima, localiza-se as chamadas arquibancadas, as cadeiras especiais, a tribuna de honra e as cabines de imprensa. As arquibancadas dividem-se em cores, desde o ano 2000, nos setores verde, com assentos sem encosto, mais populares, onde se localizam as torcidas organizadas dos clubes de futebol, com vista para trás dos gols; amarelo, setores populares onde as cadeiras passam a ter a assento, também com vista para trás dos gols; e branco, que, ao contrário dos outros dois setores, possui vista central (ou lateral) para o campo, de frente para as cabines de imprensa, também contando com cadeiras com encosto. As cadeiras especiais, lugares mais nobres e caros do estádio, possuem cadeiras azuis. Neste setor, encontram-se também as cadeiras perpétuas, que foram compradas ao longo dos anos e são propriedades de seus titular. As tribunas de honra são designadas para autoridades presentes ao evento
Os camarotes, localizados acima das arquibancadas, possuem visão ampla para o campo. Possuem vidros que separam fisicamente do setor abaixo e contam com bares, televisão e ar condicionado para seus frequentadores. Normalmente, são alugados por grandes empresas que convidam seus sócios, funcionários e parceiros para assistirem aos eventos. O acesso ao local dá-se de automóvel, que sobe uma rampa feita especialmente para isto. Antes das obras de modernização, o setor das arquibancadas, até 2000, não possuía cadeiras. Bem como o setor da geral, até 2005, localizado no nível inferior, onde os torcedores assistiam às partidas em pé. No nível inferior também existia o setor das cadeiras, única com assentos a preços populares.
O estádio conta no nível térreo, com a "Calçada da Fama", inaugurado à data do cinquentenário do Maracanã, em 2000. Futebolistas como Pelé, Zico, Jairzinho, Roberto Dinamite, Rivellino, Zagallo, Amarildo, Eusébio, Franz Beckenbauer, Romerito entre outros que atuaram no Maracanã possuem a marca de seus pés representados em cimento. Uma curiosidade do local é que os goleiros, como Manga, possuem suas mãos marcadas, e Garrincha, falecido à época da inauguração, tem um estande especial com um par de suas chuteiras e uma camisa.
O museu do estádio, intitulado Museu de Esportes Mané Garrincha, mas conhecido simplesmente por Museu do Futebol, foi inaugurado em 2006 e conta a história do Maracanã, do futebol do Rio de Janeiro e da Seleção Brasileira de Futebol. Lá, é possível se encontrar a bola do milésimo gol de Pelé, uniformes da seleção e fotos dos campeões mundiais, além de um vídeo que mostra, através de uma maquete eletrônica, como ficou o novo Maracanã para a Copa do Mundo de 2014.
Hoje o Maracanã está sob gestão da dupla Flamengo - Fluminense. A dupla carioca assumiu a gestão do Estádio Mário Filho em abril de 2019,
FONTES
TAVARES, A. B. C. de O.; VOTRE, S. J. ESTADIO DO MARACANÃ NA MEMÓRIA DE SEUS FREQUENTADORES. Movimento, [S. l.], v. 20, n. 3, p. 1017–1038, 2014. DOI: 10.22456/1982-8918.43624. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/Movimento/article/view/43624. Acesso em: 29 maio. 2023.
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