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FUNDAÇÃO DA CIDADE MARAVILHOSA

Após a descoberta das terras brasileiras e visando reconhecer e mapear o território brasileiro, Portugal enviou a primeira expedição exploradora, comandada por Gaspar de Lemos em 1501. Nesta expedição estavam experientes navegadores e cartógrafos, com destaque para Américo Vespúcio;

O nome Rio de Janeiro foi um equívoco cometido pelos navegadores. Ao chegar à entrada da Baía de Guanabara em 01 de janeiro de 1502, acreditavam estar diante da foz de um rio. Como era o primeiro dia do ano, chamaram-no Rio de Janeiro. A Baía de Guanabara é um nome de origem indígena. Os tupinambás ou tamoios que aqui viviam, chamavam-na de Gana-Bará ou Gana-Pará, que quer dizer “Seio de Mar”.



A segunda expedição exploradora, comandada por Gonçalo Coelho em 1503, deteve-se na Baía de Guanabara, na atual Praia do Flamengo. Esta expedição também trouxe consigo o experiente Américo Vespúcio, responsável pela fundação da feitoria de Cabo Frio para exploração do pau-brasil, na praia do Cabo da Rama, atual Praia dos Anjos, em Arraial do Cabo. Desembarcando na Guanabara, construiu outra feitoria menor, uma simples casa de pedra, às margens de um rio de água potável (Rio Carioca). Nela colocou apenas o feitor João de Braga, com a espinhosa missão de policiar a baía de Guanabara e impedir o roubo do precioso pau-brasil. Os índios tamoios, que de início não eram hostis aos portugueses, olharam aquela construção com alguma desconfiança e a denominavam de Kari Oca, ou seja, “Casa de Branco”. A casa da feitoria ficava exatamente na atual praia do Flamengo, na esquina da atual rua Cruz Lima. O rio Carioca, hoje canalizado, desemboca no mar atualmente ao lado do morro da Viúva. Consegue ser visto na área do Cosme Velho.

A partir de 1504 começaram a chegar navios mercantes franceses procedentes de Dieppe, Honfleur e de outros portos. Os índios trocavam pau-brasil, pimenta, papagaios, sagüis e outras coisas da terra por carapuças vermelhas, miçangas, espelhos, facas, machados e outros instrumentos. O pau-brasil, ou ibirapitanga, era cortado e torado no interior das florestas e trazido no ombro dos índios até próximo à praia. Aí era armazenado em galpões até a chegada dos navios

Alarmado com a presença de invasores europeus, o rei Dom João III, decidiu mudar a forma de atuação na costa do Brasil. A frota guarda-costas era inútil para um litoral tão vasto, e os franceses estavam cada vez mais audaciosos. Era preciso começar urgentemente a ocupação da terra e para isso o rei adotou a estratégia de doar grandes extensões do litoral e do interior para nobres e ricos comerciantes, então de posse hereditária.

O Brasil foi dividido em 14 partes, as Capitanias Hereditárias. Em abril de 1531, Martim Afonso de Souza chegou ao Brasil comandando a primeira expedição colonizadora. A parte onde ficava a Baía de Guanabara passou a pertencer a Martim Afonso de Sousa, cujo terreno englobava também São Vicente. O futuro território fluminense ficou dividido entre duas Capitanias: de São Tomé, pertencente a Pero de Góis de Silveira, e a de São Vicente, pertencente a Martim Afonso de Souza. A divisa entre as duas Capitanias ficava no Rio Macaé. Permaneceu na Baía de Guanabara por cerca de oito meses, depois rumou para São Vicente, em São Paulo, onde fundou a primeira vila do Brasil, em 1532. São Vicente foi escolhida para sediar sua propriedade por já ali residirem colonos brancos em comum acordo com os índios, bem como já existir naquele lugar algumas rotas de penetração para o interior, abertas pelos índios, e de grande interesse para os colonizadores, ávidos de encontrar riquezas. Porém decepcionados com os resultados da expedição, Martim Afonso de Sousa e Pero Lopes nunca mais voltaram ao Brasil, concentrando-se nas viagens para a Índia. Entretanto, a vila de São Vicente evoluía aos poucos, mesmo sem investimentos diretos do reino ou de Martim Afonso. Ali estavam dezenas de portugueses e de pessoas de outras nacionalidades, que tentavam explorar qualquer fonte de riqueza da terra.


Já o Rio de Janeiro, mesmo sendo o segundo maior porto da terra, com grande quantidade de pau-brasil, foi relegado ao completo esquecimento em um momento delicado para o projeto colonial português. Por isso, a Baía de Guanabara se transformou no maior entreposto comercial francês durante esse período. Os normandos passaram a se afastar das posições lusas já estabelecidas no litoral, explorando portos que estivessem desocupados e onde pudessem comercializar e fazer amizade com os nativos sem muitos transtornos. As principais tribos que habitavam a região sudeste eram os goytacazes, paraíbas, puris, tamoios, goianás, que compunham os maiores grupos. Os grupos menores eram formados pelos coroados, coropós, caiapós, guarus, tupiminós ou temiminós. Com o abandono da feitoria de Cabo Frio, a região foi invadida pelos franceses, que passaram a explorar o pau-brasil. Os tupinambás do Rio de Janeiro os chamavam de mairs ou maíras.

Enquanto os portugueses ficavam em feitorias fortemente armados e tentavam negociar só com o morubixaba, os franceses tinham uma estratégia mais direta e amistosa. Deixavam alguns jovens nas aldeias para viver conforme os nativos, se adequando a vida na tribo e aprendendo sua língua. A partir da década de 1540, a crise com os franceses atingiu novo patamar. Após a proibição oficial de comércio na costa do Brasil, o rei francês Francisco I promulgou uma ordem régia em 1543 que defendia a liberdade irrestrita dos mares. Os comerciantes franceses aproveitaram para intensificar ainda mais suas atividades. Ainda no ano seguintes Francisco I concedeu uma carta de corso a importantes armadores, para que seus navios, em represália, pudessem apossar-se das cargas dos navios portugueses. Houve uma verdadeira corrida francesa ao Brasil.

O rei Dom João III foi alertado por donatários que os franceses não tardariam em erguer uma fortaleza em alguma ilha.e foi solicitado artilharia e pólvora para defesa dos ataques. visto que as pobres capitanias não conseguiriam resistir a um ataque francês.

Os morubixabas se tornaram aliados dos franceses. Nenhum português conseguiu fazer esse papel no Rio de Janeiro. Já havia um ressentimento em relação aos portugueses antes mesmo da chegada dos franceses à Guanabara. Os portugueses haviam cometido traições e ataques, particularmente em São Vicente, contra algumas tabas da região, em busca de escravizados para os engenhos de cana-de-açúcar. Além dos inimigos em comum, os franceses ainda ajudavam os índios com armas e treinamentos.

Ficou evidente que o sistema de capitanias hereditárias não estava dando resultado. Os poucos donatários que vieram, eram atacados pelos nativos pois os tupiniquins não aceitaram perder seus territórios e florestas para plantação de canaviais. E ainda sofriam a ameaça de invasão francesa. Muitos engenhos foram queimados pelos nativos e portugueses foram mortos.

Em 1548, Dom João III instituiu um governo-geral e armou uma esquadra respeitável sob o comando de Tomé de Sousa. Foi a primeira viagem claramente organizada para a colonização do Brasil, e nela viriam os primeiros seis jesuítas da Companhia de Jesus, sendo o principal deles Manuel da Nóbrega. A Companhia tinha como missão “educar os gentios” e converte-los ao cristianismo. O governador-geral recebeu a missão de fundar uma cidade na Baía de Todos os Santos, socorrer os demais portos em caso de guerra, patrulhar a costa e impedir a escravização dos índios.

Com a multiplicação de navios franceses o próprio governador-geral Tomé de Sousa correu a costa para verificar o estado das terras. O rei Dom João III havia ordenado a construção de um forte na Guanabara. A gente de Tomé de Sousa não pôde descer à terra porque os tupinambás mostraram armas nas mãos, e encheram as praias de guerreiros, ensaiando um ataque. Além disso, não havia gente suficiente para combate. Era preciso ocupar o Rio de Janeiro com uma povoação que tivesse capacidade de se defender, e para isso eram necessários muita gente e recursos. Enquanto isso, a amizade entre tupinambás e franceses só aumentava a cada ano. A mando do rei Henrique II, em 1555, uma frota comandada por Nicolas Durand de Villegagnon, veio para o Rio de Janeiro com o plano de fundar uma colônia no Brasil, a França Antártica. Villegagnon parecia o homem ideal para aquela missão colonizadora. Era um homem culto, estudou Teologia na na mesma época em que João Calvino, influência máxima do protestantismo francês. Era experiente na guerra, exímio espadachim, combatera os turcos na Itália e na Hungria, e árabes na África. Como estudante de Teologia, fez promessas de lealdade à ordem dos cavaleiros de Malta, um braço armado internacional que servia à Igreja católica e aos reinos cristãos, fundada no período das Cruzadas, conhecida hoje como a Ordem dos Cavaleiros Templários. A França estava ao mesmo tempo em guerra contra a Espanha, contra o Sacro Império Romano-Germânico e contra a Inglaterra, além de passar por graves turbulências religiosas com perseguições aos protestantes, demorando mais de cinco anos para que Henrique II aprovasse o projeto de colonização do Brasil. Villegagnon teve autorização do rei para levar todos os tipos de profissões para a fundação e manutenção da colônia, mas teve que recrutar boa parte dos seus homens nas prisões de Paris e Rouen, prometendo-lhes reabilitação pelo trabalho na nova colônia.

No dia 10 de novembro de 1555, os barcos franceses entraram na Baía de Guanabara e foram recebidos pelos nativos de maneira bem hospitaleira, já que esses achavam que os franceses tinham vindo para ajudá-los a lutar contra os portugueses e fundarem uma aliança perpétua. Acamparam primeiramente na aldeia tupinambá próximo à foz do rio Karióka. Por dois meses Villegagnon procedeu o exame de todas as ilhas e sítios em terra firme, para avaliar melhor lugar para construção de um forte. Decidiu estabelecer o forte planejado em uma pequena ilha, dentro da baía também próxima à barra, onde podiam controlar a movimentação de entrada e saída de barcos da baía. Outra vantagem da ilha também era próxima à terra do continente. cercada por pedras que impossibilitavam o desembarque por todos os lados. Os tupinambás plantavam mandioca e outras raízes na ilha que chamavam de Serigipe, “ilha da água dos siris”, crustáceos facilmente encontrados entre as pedras. Lá os franceses construíram um forte batizado de Coligny. Atualmente a ilha é chamada de Ilha de Villegagnon e é a sede da Escola Naval, sob a responsabilidade da Marinha do Brasil


Com sua natureza autoritária, Villegagnon logo começou a causar descontentamentos entre os colonos franceses. Além da rígida disciplina que impunha na construção do forte e limitação das idas ao continente, ainda quis estabelecer condutas morais entre os colonos, que se viram proibidos de tomarem as mulheres da terra como esposas sem batizado e casamento sob as bênçãos da Igreja católica.

Para piorar a situação desde a chegada da expedição, alguns tupinambás começaram a cair doentes. A doença alastrava-se rapidamente pelas aldeias e transformou-se em uma mortal epidemia como resultado do contato com os franceses que haviam desembarcado. trazendo consigo vírus mortais para os tupinambás. Perdeu o apoio dos colonos e dos tupinambás. Sem a ajuda permanente dos tupinambás, a fome virou uma constante no forte Coligny, pois preocupados com a construção do forte, não pensaram em cultivar a terra, apesar de terem levado sementes.

Alguns protestantes, receosos dos desdobramentos do clima político na França, mostraram-se interessados em colonizar o Brasil. Um pequeno grupo de “pastores” foi enviado à França Antártica para verificar as condições da terra e preparar o terreno para o envio de milhares de protestantes franceses nos anos seguintes. Mais trezentos homens haviam chegado para povoar o Rio de Janeiro. Apesar de católico, Villegagnon dizia que também queria uma igreja reformada, mas suas contradições geraram diversos conflitos religiosos.

A notícia da construção do forte francês no Rio de Janeiro não tardou a chegar no rei Dom João III. Um segundo governador-geral, o nobre Duarte da Costa, chegou em substituição a Tomé de Sousa. Fez um governo atribulado e acabou culpado pelo estabelecimento dos franceses na Guanabara. O governador Duarte da Costa, imerso em críticas de todos os lados e vendo-se incapaz de solucionar os problemas, acabou solicitando ao rei Dom João III para que o substituísse, encurtando-lhe o tempo de mandato. A reação portuguesa às ações de Villegagnon no Rio de Janeiro só veio com a chegada do próximo governador-geral, Mem de Sá, que aportou na Baía de Todos os Santos apenas no fim de 1557.

Com o forte já pronto e fatigado das dificuldades – rebeliões, dissenções religiosas, deserções em massa, a falta de ajuda espontânea dos nativos, resolveu o próprio Villegagnon voltar à França na segunda metade 1559, em busca de apoio para a colônia. Quando chegou à França no fim de 1559 encontrou uma conjuntura política completamente diferente de quando partiu. O rei Henrique II havia morrido deu início a uma disputa pelo trono francês Na corte, a França Antártica estava entre as últimas prioridades. No ano seguinte, a reação portuguesa finalmente chegaria à Guanabara.

O rei Dom João III em julho de 1556 concedeu o cargo de governador-geral a Mem de Sá, com poderes muito mais amplos do que os de seus antecessores e com ordens para que desse fim aos planos de colonização francesa no Rio de Janeiro. A tropa se aprontou e eles partiram com dez embarcações em direção ao sul em 16 de janeiro de 1560.

No dia 21 de fevereiro de 1560, a força naval portuguesa enfim chegou à Guanabara e era intuito de Mem de Sá que as embarcações não fossem percebidas pelos franceses. Aportaram fora da baía, a uma distância segura, com a intenção de promover um assalto noturno e de surpresa à fortaleza de Coligny. Acabaram sendo percebidos pelos franceses. Os oficiais foram de opinião de que, antes de qualquer tentativa, era preciso ainda mais gente e que se aguardasse os reforços prometidos de São Vicente. Mem de Sá decidiu tentar uma solução pela via diplomática, sem sucesso. O conflito aconteceu. Reforços de São Vicente chegaram e Mem de Sá decidiu a atacar a fortaleza. Segundo o próprio Mem de Sá, estavam na fortaleza cerca de 120 franceses e mais de mil guerreiros tupinambás ainda leais aos homens deixados por Villegagnon. Após as batalhas no forte, os inimigos franceses fugiram. Não dispondo de homens suficientes para conquistar e povoar a terra, Mem de Sá determinou embarcar os canhões e tudo o mais de utilidade que encontrou na fortaleza e partiu para São Vicente deixando de novo a Baía de Guanabara desguarnecida de qualquer posição defensiva portuguesa. Mem de Sá confiou a seu “sobrinho” Estácio a missão de voltar a Lisboa para convencer a rainha regente Dona Catarina da importância de se povoar a Baía de Guanabara. A rainha regente de Portugal mandou entregar a Estácio de Sá dois galeões preparados para a guerra que se juntou a outros galeões aqui no Brasil.

No dia 6 de fevereiro de 1564, a esquadra entrou pela barra da baía, descarregando tiros de canhão para avisar os nativos de sua presença. No mesmo dia, despachou Estácio uma das naus a São Vicente para buscar o padre Manuel da Nóbrega. Estácio de Sá fundeou a frota perto da ilha de Serigipe e ocupou o mesmo lugar que havia servido de base aos franceses de Villegagnon. A princípio os homens de Estácio de Sá foram recebidos como amigos pelos tupinambás, e o capitão aproveitou para fazer algumas incursões e explorações pela baía. Conseguiu aprisionar um dos franceses que por ali estava e soube por meio dele que o armistício com os portugueses já estava rompido. Os tupinambás, entretanto, haviam ganho o tempo de que precisavam para juntar mais de cem canoas de guerra de várias tabas diferentes, e com mais de 2 mil guerreiros partiram para o confronto.

Durante dois meses, Estácio de Sá se viu em apuros na Guanabara e em constante pressão dos tupinambás, que cobriam as praias e enseadas de canoas armadas de guerra. Decidiu então partir armar-se melhor em São Vicente. Dois dias depois da partida, desencontrando-se da armada, chegou à baía a nau que havia ido buscar o jesuíta Manuel da Nóbrega, Chegaram à barra da Guanabara por volta da meia-noite, e logo perceberam que a frota não se encontrava no porto. Desceram na ilha de Serigipe e perceberam que todas as cabanas estavam incendiadas e corpos de nativos. A frota de Estácio tse viu atingida pela tormenta do dia anterior e apareceu de novo na entrada da baía, encontrando enfim a nau que levava os jesuítas. Ficaram ainda mais um dia na ilha e depois decidiram todos partirem de volta a São Vicente. Durante nove meses permaneceu Estácio de Sá em São Vicente tentando reforçar sua tropa.

No dia 22 de janeiro de 1565, Estácio partiu de São Vicente com a missão de fundar definitivamente uma povoação no Rio de Janeiro. No dia 28 de fevereiro, enfim chegou o navio de Estácio e na barra da Baía de Guanabara. A estratégia era desembarcar no mesmo lugar onde Mem de Sá acolhera sua armada quando foi dar combate ao forte dos franceses em 1560. No dia seguinte, 1o de março, desembarcaram em uma estreita várzea próxima à barra e por isso aquele dia foi considerado como o marco da fundação da cidade de São Sebastião, em homenagem ao rei de Portugal, ainda menor de idade naquela época. A partir de tal data nunca mais os portugueses arredariam o pé da Baía de Guanabara. O lugar havia sido escolhido por sua posição defensiva e por também permitir o controle total sobre a barra. Era um local inacessível por terra, por se localizar atrás do morro do Pão de Açúcar e ter à frente outro rochedo, que mais tarde ficou conhecido como Cara de Cão. Entre esses dois penedos havia apenas uma pequena praia que dava vista para toda a Baía de Guanabara. No lugar hoje funciona uma base militar anexa ao forte de São João, na Urca, cuja construção começou no início dos anos 1600. A praia citada é a Praia de Fora podendo ser vista apenas nas visitações ao Forte.






Todos os esforços iniciais se concentraram em construir trincheiras, fossos e uma grande cerca, tal qual um muro de proteção na frente dessa praia, de modo a isolar aquela parte de terra como uma base militar. Outra praia que ficava de frente à barra recebia proteção dos navios e barcos fundeados na enseada.

No dia 6 de março, travaram-se os primeiros combates, e ciladas foram armadas, recebendo ataque direto dos tamoios e dos franceses com vitória portuguesa. Já em 1o de julho de 1565, antes mesmo da vitória final sobre os tupinambás, Estácio começou a conceder sesmarias a seus companheiros de batalha numa tentativa de convencê-los a permanecer no esforço de guerra, em detrimento de suas posses em outros lugares. Os perigos, contudo, ainda continuavam. Os tupinambás estavam reunindo todas as suas forças e mensageiros foram ao Cabo Frio convocar mais guerreiros e três naus francesas a juntar-se ao esforço de guerra contra os portugueses,

Começou a guerra no mar e na fortificação. Houveram grandes perdas entre “a gente da fortaleza e da nau capitanea por o haverem de abalroar e pelejar com os franceses, que eram muitos”. Os tupinambás que estavam em terra, aproveitando o fato de os portugueses estarem divididos, começaram a tentar invadir o arraial. Nenhuma das tentativas de ataque os tupinambás conseguiram entrar na fortificação portuguesa erguida no Cara de Cão, tamanha era a eficácia daquele ponto defensivo. As perdas portuguesas naquela batalha foram muitas mas depois dessa decisiva vitória, Estácio passaria a ordenar explorações mais audaciosas do território. Transcorridos alguns dias, Estácio ordenou ataques saindo da fortaleza. Partiu com a nau capitânia e despejou sua artilharia sobre as naus francesas e “fez nelas destroço de muitos mortos e feridos”. Ao chegar à cena do combate, os tupinambás se puseram a fugir e Estácio os perseguiu, mas quando os portugueses entraram por uma ponta da terra depararam-se com todo o restante da numerosa frota tupinambá esperando-os. Os portugueses, assustados, tentaram resistir da melhor maneira e procuraram acionar uma “roqueira” (pequeno canhão) que traziam em uma das canoas. No desespero, um dos soldados pôs fogo em toda a pólvora A mulher de um dos morubixabas que vinha em uma das canoas tomou tão grande susto que se pôs a gritar e espernear ao ver aquele fogaréu espontâneo. Essa mulher começou a gritar “dizendo a vozes, que havia um incêndio mortal, que havia de consumir aos seus, que fugissem, fugissem à pressa”. Os portugueses acreditaram que o ocorrido era uma demonstração do auxílio divino e de que o próprio São Sebastião teria aparecido para aquela índia em meio ao clarão do fogo.

Muitas aldeias teriam sido atacadas. Se preocupavam logo em matar todos os idosos e homens adultos guerreiros, preservando para escravidão apenas jovens, crianças e mulheres, que eram despachados assim que possível para outras capitanias.

Estácio de Sá havia feito tudo o que podia e se estabelecido de maneira firme dentro de sua fortaleza na várzea do Cara de Cão, mas ainda não era capaz de derrotar o exército tupinambá e suas mais de setenta grandes aldeias, com tão poucos homens. Em novembro de 1566, o governador Mem de Sá partiu de Salvador com dois navios e seis caravelas, auxiliado com uma pequena frota de três galeões. No início de janeiro do ano seguinte, uma grande frota entrava no Rio de Janeiro para se juntar às forças de Estácio nas batalhas para a conquista final. A armada de Mem de Sá chegou à Guanabara no dia 18 de janeiro de 1567 e se encontrou com os homens de Estácio, que há dois anos sustentavam sozinhos aquela guerra. Os tupinambás, como não conseguiam penetrar no bastião português, haviam se entrincheirado em dois lugares principais. O primeiro lugar era o alto do atual Morro da Glória. Outra fortaleza ainda maior foi construída pelos tupinambás na atual Ilha do Governador,

Mem de Sá, que havia chegado ao Rio de Janeiro doente, mandou dar combate à fortaleza do Morro da Glória. A fortificação foi combatida com ânimo, mas “com muitos mortos e feridos dos cristãos”, que mesmo assim lutaram com fervor tanto no “cabo que no começo” da batalha. Nessa batalha, Estácio foi ferido por uma flechada falecendo um mês depois. ganhando a aura de um mártir, tal qual o próprio São Sebastião. Na atual Ilha do Governador um combate ainda mais sangrento foi travado. Foram três dias de uma luta sangrenta, onde milhares de tupinambás e alguns franceses que viviam na Guanabara há mais de dez anos, não conseguiram resistir.

Os mais aguerridos sobreviventes tupinambás foram na maioria em fuga para Cabo Frio, onde por pelo menos mais uma década ainda tentariam reunir forças para aniquilar os conquistadores portugueses. Pouco a pouco suas aldeias foram desaparecendo frente à expansão dos engenhos e fazendas que logo começaram a surgir, a tal ponto que nos dias de hoje a sua presença muitas vezes nem sequer é lembrada na história deste Rio. Os poucos que fizeram as pazes com o governador Mem de Sá logo se viram sem suas terras, escravizados ou metidos em aldeamentos



REFERÊNCIAS


Silva, Rafael Freitas da. Rio Antes do Rio. . Editora Relicário. 4ª edição. Rio de janeiro, 2019

Belchior, Elysio. Estácio de Sá e a fundação do Rio de Janeiro

História vol.27 no.1 Franca 2008




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