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HISTÓRIA DAS BIBLIOTECAS - TEMPLOS GUARDIÃOS DO CONHECIMENTO


Desde o início da humanidade, o homem tem se preocupado em registrar todo o conhecimento por ele produzido. Esta forma de registro evoluiu desde os blocos de argila até o armazenamento de dados em uma rede digital. A palavra “biblioteca” tem sua origem do grego biblíon (livro) e teke(caixa, depósito), portanto um depósito de livros. Desde as primeiras bibliotecas, essa palavra tem sido empregada para designar um local onde se armazenam livros. Porém, nem sempre foram livros os materiais que preenchiam as bibliotecas. Historicamente, os suportes para a informação variaram de formato seguindo a tecnologia utilizada pelo homem. Já foram usados materiais como tabletas de argila, rolos de papiro e pergaminho e os enormes códices que eram enclausurados nos mosteiros medievais.

BIBLIOTECAS DA ANTIGUIDADE

Se constituíam locais de armazenamento de documentos, com sistemas precários de recuperação e acesso. Elas se ocupavam em armazenar a maior quantidade de rolos de papiro e, posteriormente, pergaminho atribuindo status e poder aos seus imperadores nas regiões onde se encontravam. Estas bibliotecas reuniam escritos de intelectuais gregos, romanos e egípcios. Exemplo de uma grande biblioteca deste período é a biblioteca de Alexandria que continha setecentos mil volumes.

Nesse período, as bibliotecas não tinham um caráter público e serviam apenas como um depósito de livros, sendo mais um local em que se escondiam os livros do que um lugar para preservá-los e difundi-los. As disposições arquitetônicas dos edifícios das bibliotecas tinham por objetivo impedir a saída do acervo. Os acervos dessas bibliotecas eram organizados em armários com divisórias e arrumados um ao lado do outro, contendo etiquetas visíveis indicadoras dos títulos. Dentre as mais importantes Bibliotecas da Antiguidade pode-se citar a de Nínive, a de Pérgamo, as gregas, as romanas e, principalmente, a Biblioteca de Alexandria, a mais famosa e importante do mundo antigo. Apesar da importância e grandiosidade nenhuma Biblioteca da Antiguidade sobreviveu.


Biblioteca de Nínive

Uma das bibliotecas mais imponentes da Antiguidade foi a de Nínive, na Babilônia. O acervo da biblioteca era documentado em blocos de argila cozida e escrita em caracteres cuneiformes que remontam o século IX a.C. As placas eram classificadas por assuntos e identificadas por marcas que determinavam sua localização dentro da coleção. Existia ainda uma espécie de catálogo onde se registravam as grandes diversidades de assuntos. A Biblioteca de Nínive pode ser considerada a primeira coleção indexada e catalogada da história. A biblioteca permaneceu oculta por muitos séculos até ser descoberta em 1845. Muitos fragmentos, aproximadamente 25.000, encontrados estão hoje no Museu Britânico


Biblioteca de Pérgamo

Outra das grandes bibliotecas da Antiguidade foi a Biblioteca de Pérgamo, localizada na Ásia Menor. A biblioteca reuniu um numeroso grupo de eruditos e literatos, encarregando-os da realização de estudos linguísticos e literários que tinha por objetivo competir com a Biblioteca de Alexandria. Foi a responsável por inventar o pergaminho (Charta Pergamenum), que por ser reciclável e resistente, viria a ser o suporte preferido para a escrita durante os mil anos seguintes.


Bibliotecas na Grécia


Na Grécia, a primeira biblioteca foi criada por Pisístrato, que tinha o caráter de biblioteca pública e que objetivava reunir em um mesmo lugar obras dos autores mais famosos, tais como Homero entre outros. A maior parte das bibliotecas estariam nas mãos de particulares e, devido a isso, há pouco a ser relatado sob suas características ou outros aspectos. Além disso, grandes quantidades de volumes foram transferidos para a Biblioteca de Alexandria.


Bibliotecas em Roma

As bibliotecas em Roma constituíram duas formas de apresentação: as bibliotecas particulares e as bibliotecas públicas. Muitos das primeiras bibliotecas privadas de Roma tiveram como base, acervos provenientes de saques de guerra. A única biblioteca particular da qual existem hoje, alguns vestígios, é a da famosa Vila dos Papiros, em Herculano, que permaneceu durante muitos séculos, oculta sob as cinzas da famosa erupção do Vesúvio. A ideia de biblioteca pública parecida com as atuais foi invenção de Júlio César, que tinha por objetivo construir uma pouco antes de ser assassinado. Depois de sua morte, um de seus partidários, Asínio Pólio e o escritor Públio Terêncio Varrão, levaram o projeto adiante. A biblioteca era formada por dois salões de leitura, sendo um para livros em latim e outro para livros em grego e, em cada um deles, decorados com estátua de poetas e oradores dos dois idiomas. públicas. Em Roma, a biblioteca pública prestava serviço de destaque como depositários de importantes documentos públicos, e algumas, até os emprestavam para leitura a domicílio. A administração estava, frequentemente, a cargo de sacerdotes, já que muitas vezes se localizavam dentro de um templo ou em anexo a ele. Infelizmente, os sucessivos incêndios e o caos político que mergulhou Roma levaram consequentemente, a destruição das bibliotecas romanas


Biblioteca de Alexandria

Durante sete séculos, entre os anos de 280 a.C. a 416 d. C., a Biblioteca de Alexandria reuniu o maior acervo de cultura e ciência da Antiguidade. Ela não se contentou em ser apenas um enorme depósito de rolos de papiro, ditos livros, mas por igual tornou-se uma fonte de instigação para que os homens de ciência e de letras desbravassem o mundo do conhecimento e das emoções, deixando assim um notável legado para o desenvolvimento geral da humanidade.

A Biblioteca de Alexandria foi criada em 280 a.C. pelo Ptolomeu I com a intenção de tornar Alexandria, uma rival cultural de Atenas. Em seus primeiros três séculos, da fundação à chegada de César, chegou a acomodar mais de 700.000 rolos em volumes diversos. Para qualquer intelectual ser convidado para o cargo de bibliotecário-chefe em Alexandria era, simplesmente, alcançar a glória. As atribuições do bibliotecário-chefe transcendiam as funções habituais, pois eles eram também humanistas e filólogos, encarregados também da tutoria dos príncipes reais, a quem deveriam orientar nas leituras e no gosto.

Os incêndios fazem parte da história da Biblioteca de Alexandria e, com certeza, o frágil papiro parece não ter ardido apenas uma vez. O primeiro incêndio ocorreu em 48 a.C. destruindo de uma só vez, 40 mil rolos. A biblioteca foi ainda destruída pelo fogo em mais três ocasiões.


BIBLIOTECAS NA IDADE MÉDIA

Na medida em que as luzes de Roma começavam a se apagar, suas bibliotecas definharam e morreram, uma vez que os recursos necessários para adquirir e preparar o pergaminho se tornou caro e escasso. Iniciava-se aí um período sombrio para o estudo, para os livros e para as bibliotecas; iniciava-se a Idade Média.

Na Idade Média, o centro da vida social e econômica da população era a Igreja. Mesmo a escrita existindo desde o fim da pré-história, a tradição oral prevalecia no mundo ocidental. Nesse contexto, as bibliotecas estavam sob o comando do clero e eram de difícil acesso para a população que se conformava com sua condição, pois era educada através da tradição oral. A alfabetização escrita era restrita a poucos. Assim, a tarefa da escrita destinava-se aos cultos que eram os clericais e acesso ao acervo era permitido apenas aos pertencentes às ordens religiosas ou pessoas que fossem aceitas por estas

Com o passar do tempo, os suportes de informação passaram por modificações. Os rolos de pergaminho, por exemplo, foram substituídos por folhas deste mesmo material que eram costuradas em sua margem, formando o códice, de aspecto parecido com o livro de hoje. As obras existentes em seu acervo eram controladas, pois algumas delas eram consideradas de natureza profana. O controle também se estendia ao trabalho dos escribas que se ocupavam com a transcrição de manuscritos clássicos. As bibliotecas monásticas também existiram no Oriente Próximo, são as chamadas bibliotecas bizantinas. que eram igualmente mantidas por monges. Enquanto as bibliotecas ocidentais perpetuavam exclusivamente a literatura latina e sua respectiva cultura, as bizantinas eram predominantemente núcleos da civilização helênica, um conteúdo profano para os cristãos. A fuga desses monges e desses sábios de Bizâncio para o Ocidente, trazendo os seus manuscritos e os seus conhecimentos, por ocasião da tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, é que contribui para Renascença e, por consequência, o fim da Idade Média.

As bibliotecas universitárias surgiram na Idade Média, pouco antes do Renascimento. A princípio elas estavam ligadas às ordens religiosas, porém já começavam a ampliar o conteúdo temático além da religiosidade. Estas bibliotecas são as que mais se aproximavam do conceito atual de biblioteca como espaço de acesso e disseminação democrática de informação. O número de estudantes universitários aumentou, ocasionando o crescimento também da produção intelectual. Devido ao número crescente de novas universidades, de estudantes e também de textos prescritos para estudo, criou-se uma demanda de livros sem precedentes. Isso podia ser resolvido simplificando e barateando os custos de produção dos livros, porém, mesmo assim estes ainda demandavam muitos recursos. Uma das soluções encontradas foi abrir as portas das bibliotecas existentes. Os livros ainda eram manuscritos o que dificultava a reprodução destes para o estudo. No momento em que a Idade Média entrava em decadência dando espaço ao Renascimento, difundiu-se na Europa a tecnologia dos tipos móveis de impressão – maior acessibilidade aos livros em papel impresso – acabou sendo um estímulo ao conhecimento das letras e à absorção de conhecimento. Quanto mais se lia, mais se produzia conhecimento o que aumentava o campo para novos estudos. Este ciclo cresceu aumentando a relação entre a universidade, a biblioteca e os seus leitores. Em fins do século XIII, as Universidades fundam suas próprias bibliotecas. A Universidade de Paris, chamada de Sorbonne, iniciou sua biblioteca com a doação dos livros de Robert de Sorbon. Foi a partir da criação das Bibliotecas Universitárias, que o bibliotecário surgiu de fato, como o organizador da informação e consequentemente, no Renascimento, consolidou seu papel como disseminador do conhecimento.

BIBLIOTECAS NO RENASCIMENTO

É no Renascimento que as bibliotecas iniciaram, de fato, o seu papel de disseminadoras da informação. A biblioteca universitária sofreu os reflexos das mudanças trazidas pela Renascença. A partir do século XVI, com o descobrimento de novas terras e novas culturas além-mar; a ciência começa a se desenvolver, desmistificando posições impostas pela Igreja; a volta à cultura clássica trouxe a preocupação com o ser humano, com suas dimensões e necessidades, mudando sua concepção de vida do teocentrismo para o antropocentrismo; o crescimento demográfico impulsionou a tradição escrita, com o auxílio da difusão da escrita e do papel. Neste contexto, a biblioteca universitária ganha espaço e mais autenticidade e autonomia, estendendo sua visão de democratização da informação às bibliotecas posteriores a ela. Entretanto, os processos de mudança ocorreram lenta e continuamente. A biblioteca moderna rompeu os laços com a Igreja católica, estendendo a todos os homens a possibilidade de acesso aos livros, com isso precisou se especializar para atender as necessidades de cada leitor ou comunidade, deixando de ser passiva, deslocando-se até o leitor, buscando entendê-lo e trazê-lo para a biblioteca

BIBLIOTECA MODERNA

A partir do Renascimento, as bibliotecas passaram a adotar um caráter mais democrático e tentaram, de todas as formas, alcançar o público. A concepção de biblioteca como um depósito de livros trancados e acorrentados começa a se modificar, passando a ser encarada de outra forma - passa a ser uma biblioteca pública preocupada com a comunidade em que está inserida e para qual destina seus serviços. Este é o caráter mais democrático que a biblioteca assume, em concordância com o que ocorria na sociedade com as lutas por direitos igualitários. A biblioteca moderna, nascida na Renascença, trouxe também o bibliotecário como um profissional reconhecido. Até meados do século XIX as bibliotecas empregavam eruditos e escritores para esta função. Porém, devido à especialização do público e, consequentemente, do acervo, sentiu-se necessidade de um profissional com formação especializada que pudesse tratar tecnicamente os materiais existentes na biblioteca. A especialização permanece até os dias de hoje, favorecida pela grande produção científica e facilidade de sua divulgação. E o bibliotecário para acompanhar seus usuários, tende a se aperfeiçoar constantemente e se ambientar com as várias possibilidades de recursos na sua área.

BIBLIOTECA CONTEMPORÂNEA

O final da Segunda Guerra Mundial trouxe o computador e a informática para facilitar o trabalho nas bibliotecas. Com o transcorrer do tempo, o computador diminuiu de tamanho e aumentou sua potência, saindo dos ambientes dos laboratórios de cientistas, passando a ter uso pessoal. O desenvolvimento da informática possibilitou a criação da internet que rompeu com a comunicação unidirecional. Atualmente as bibliotecas contam com recursos tecnológicos que possibilitam ao profissional comunicar-se com os usuários virtualmente; agilizar o processamento técnico; disponibilizar documentos em formato eletrônico podendo ser acessado por inúmeros usuários ao mesmo tempo em qualquer lugar do mundo; ou até mesmo criar uma biblioteca totalmente digital. Isto ampliou as possibilidades da biblioteca e do bibliotecário, que deixa de estar estritamente ligado à instituição biblioteca, já que as fontes de informação ultrapassam as suas paredes. Hoje, o objetivo de uma biblioteca é , disponibilizar informação, preservando e transmitindo cultura.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


Morigi, Valdir José. Souto, Luzane Ruscher. Entre o passado e o presente: as visões da biblioteca no mundo contemporâneo. Revista ACB, v. 10, n. 2 (2005)

https://revista.acbsc.org.br/racb/rt/printerFriendly/432/551


Santos, Josiel Machado. O Processo Evolutivo das Bibliotecas da Antiguidade ao Renascimento.Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação. São Paulo, v.8, n.2, p. 175-189, jul./dez. 2012.


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