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HISTÓRIA DO FUTEBOL NO BRASIL QUE JÁ COMEÇOU RACISTA



O fim do século XIX e início do século XX é um momento de transição na historia

brasileira, o país passara de Monarquia para a República, alterando o cenário político do país, num processo feito de forma pacífica e articulada, mantendo o povo “bestializado, atônito, surpreso sem conhecer o que significava


No fim do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro, distrito federal da época, chegava aos 500 mil habitantes, quando começam a aparecer os clubes de regatas mais famosos, como Clube de Regatas Vasco da Gama (21 de Agosto de 1898), Clube de Regatas Flamengo (17 de Novembro de 1895), Clube de Regatas Botafogo (1º Julho de 1894) Club de Regatas São Christovão (1899), entre outras agremiações. Fazia tempo que existiam os clubes de remo e a Marinha brasileira apoiava esse esporte desde o tempo da monarquia, sendo que até Dom Pedro II presenciou algumas regatas.


No ambiente carioca, o remo se destacava como principal esporte da capital federal e trazia aos finais de semana um pequeno aglomerado de pessoas educadas para prestigiar as margens da baía de Guanabara as competições entre os barcos dos diversos grupos esportivos. O remo se manteria como o principal esporte da elite na virada do século, tendo como principais palcos a praia de Botafogo e a Lagoa Rodrigo de Freitas,


O esporte só começaria a perder espaço após 1902 através do surgimento dos primeiros clubes de futebol da cidade. A chegada dos esportes bretões – futebol e cricket – e o começo da inclusão de pessoas mais humildes no remo (principalmente como espectadores), retirou um pouco do glamour do esporte que acabou dividindo lugar com as modalidades importadas da terra da Rainha.


Descendente de ingleses, o aristocrata Oscar Cox trouxe o futebol para o Rio de Janeiro em 1897, ainda com o nome de football e com pouca popularidade. O esporte começou a se desenvolver a partir de 1902 quando surgiu o primeiro clube da cidade, o Fluminense Football Club, fundado por Cox e amigos. Era o início do futebol na cidade mas só haveria espaço para os ingleses e a elite branca do país. Elite,que forma clubes como o Fluminense Football Club, o Botafogo Football Club, e o Paysandu Cricket (clube que aceitava apenas britânicos, ou descendentes destes no elenco) entre outros. Os jogos eram disputados nos glamurosos campos de cricket da cidade. O Fluminense era um dos clubes que agregava ao seu entorno pessoas de notabilidade política e considerável poder econômico da cidade do Rio de Janeiro. Seus sócios levantaram barreiras, criavam disposições em seus estatutos impossíveis de serem cumpridas pelas camadas menos abastadas - tais como a proibição de sócios analfabetos, ou de sócios que exercessem profissões braçais - na tentativa de impedir o acesso ao clube de membros das camadas mais baixas da sociedade


Em 1906, o futebol já havia ganhado o status de principal desporto. Tinha início o primeiro campeonato carioca da história, a competição ocorreu com seis equipes: Botafogo Football Club, Bangu, Football & Athletic, Rio Cricket, Fluminense e Paysandu Cricket. O torneio nascia com a esperança de ser uma competição tão charmosa, tradicional, elitista e britânica quanto o torneio de Wimbledon


Com a abolição da escravidão, os negros foram integrados ao “mercado livre”, aumentando consideravelmente o número de desempregados e subempregados da cidade. Na primeira década do século XX, o futebol começou a se espalhar nas camadas mais pobres. Estas pessoas careciam de um esporte, pois a capoeira, muito popular nesta camada social, havia sido proibida com a mudança do regime para a República.


Porém, um dos fatos que levou o football aos desfavorecidos, foi à idéia de higienização da cidade, a política do “Bota Abaixo”. Sem a capoeira, restava aos pobres o jogo de bola que era praticado sobre os terrenos remodelados da cidade. O governo do Rio de Janeiro chegou a estimular o futebol nestas populações, pois julgava esse desporto menos perigoso para a sociedade que a capoeira. Dentro desse contexto é que os primeiros clubes de futebol, as primeiras ligas de clubes e os primeiros campeonatos passaram a ser organizados


Nos clubes da cidade, a população mais pobre não tinha vez. O amadorismo tratava de impedir a chegada destes aos teams mais tradicionais. . Foi também neste período, que o Fluminense Football Club recebeu seu famoso apelido de Pó de Arroz, quando o jogador Carlos Alberto, um mulato, tentava disfarçar-se de branco passando pó de arroz no rosto.


No primeiro momento, devido à elitização, a discriminação era evidente com a exclusão de negros e brancos pobres do futebol brasileiro. Até a década de 1920, o futebol deveria ser praticado apenas pelos elementos "sãos", "puros", cordiais, ricos e de origem letrada e para isso as ligas criaram mecanismos – como a cobrança de altas taxas de filiação – de modo a fazer do futebol um espaço de diferenciação e uma marca da "superioridade" da elite branca e abastada.

No entanto, esta classe social não conseguiu garantir o monopólio do novo esporte. Os grandes clubes precisavam de mais agremiações no intuito de organizar campeonatos que pudessem gerar renda com a venda de ingressos regulares para as equipes. Para tal, passaram a procurar formar uma liga de clubes que pudesse tanto organizar as contendas quanto dar aos representantes dos grandes clubes o poder de controlar o futebol da cidade. As ligas se assemelhavam a cartéis, formados por uma interdependência mútua dos clubes. O número de torcedores e a renda adquirida com a venda de ingressos dependiam das performances de todos os clubes. Dessa forma, os clubes precisavam ser parceiros econômicos e organizar um campeonato economicamente viável, com equipes fortes e, de preferência, próximas umas das outras, ligadas por meios de transporte que facilitassem o deslocamento dos atletas e, principalmente, torcedores, estimulando-os a acompanharem seus times.


As fábricas e companhias inglesas foram as principais responsáveis por essa difusão e popularização do esporte. Quando da conquista vascaína do título carioca – com um time recheado de negros, brancos pobres e analfabetos –, as ligas e os grandes clubes tiveram de repensar a proibição dessas pessoas no futebol "oficial", assim como, a remuneração dada a estes jogadores e a imagem do atleta de futebol. Essa era a fase do "amadorismo-marrom" e do início da inserção dos negros, mestiços e pobres nestes clubes, ainda que de maneira lenta e cercada de preconceitos.

A liga dos grandes clubes fez uso das barreiras econômicas para barrar os clubes menores. A agremiação que participasse da liga dos grandes clubes deveria contar com campos apropriados para a realização de jogos, cercados e sem a visão de quem ficava de fora, além de local apropriado para a comercialização de ingressos. Questões como a exigência de que os jogadores não fossem profissionais do esporte, não fossem analfabetos e que não exercessem profissões “braçais” ou “humilhantes” inviabilizavam a participação de clubes que contassem em suas fileiras com atletas de origem popular.


A profissionalização do futebol só veio de fato em 1933, gerando nas classes, antes excluídas a possibilidade de ascensão social e econômica. Os negros e mestiços para garantir sua participação e aceitação no esporte passam a inventar inúmeros dribles, porém, continuando a cuidar para o menor contato corporal possível com os outros jogadores, evitando as faltas, que raramente eram marcadas quando sofridas por jogadores de “cor”. É desse “método de jogo” que nasce o que viria a ser denominado futebol arte.


Mesmo com a participação das camadas populares a discriminação continuava latente dentro dos clubes e até mesmo por parte da opinião pública, pois quando ganhavam, as tradições culturais negras eram exaltadas, quando perdia, a sua "inferioridade racial" voltava à tona e transparecia.


O Campeonato Sul- Americano de 1919 – que seria disputado em 1918, mas adiado para 1919, devido à epidemia de gripe espanhola no país –, é considerado por alguns, um dos momentos iniciais da identidade nacional da seleção. A grande final que o Brasil vencera, fora disputada no novo estádio das Laranjeiras do Fluminense e o povo do Rio começava a mostrar identificação com a “pátria de chuteiras”.


Após o Campeonato Sul-Americano de 1919, os jogadores brasileiros começaram a se destacar, aparecendo para outros países. Nos anos 1920, inicia o êxodo de futebolistas

do país, principalmente para o Uruguai e Argentina, mas também o mercado europeu – Itália e Espanha. A sedução usada pelos cartolas estrangeiros era o profissionalismo, no caso europeu, além da oportunidade de ser profissional, o atleta com descendência do país tinha facilidade para se naturalizar. Os clubes do Rio de Janeiro se mantiveram como desportistas amadores, afinal o amadorismo era o artifício da classe dominante para ser a detentora do futebol. O Vasco da Gama, por exemplo, no início dos anos 1930 perdeu seus jogadores importantes após uma excursão à Europa.


A verdade é que o futebol no Brasil foi tomando dimensões tão grandes na década de 1930, Getúlio Vargas se utilizou do futebol como elemento de atração do povo, ligando este a um sentimento de identificação com a “nação brasileira”. independente das polêmicas do profissionalismo versus amadorismo. A partir de 1933, efetivaram-se no Rio de Janeiro dois campeonatos de futebol que rivalizavam na cidade, um profissional, organizado pela Liga Carioca de Football (LCF) e outro amador, organizado pela Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA).


Ocorreu uma concentração das equipes de maior qualidade na nova liga profissional organizada pela LCF. Em seu campeonato, passaram a jogar os times do Fluminense, Bangu, America, Vasco, Bonsucesso e Flamengo. Já na AMEA, apenas o Botafogo permaneceu das grandes equipes, tendo enfrentado a partir de 1933 equipes de menor expressão como o Olaria, Portuguesa, Andarahy, Engenho de Dentro, Cocotá, Mavilis, SC Brasil. Como a LCF passava a ter os principais clubes da cidade, além de possuir a partir de então um campeonato profissional, pôde desenvolver também uma lógica do espetáculo em seu âmbito, aumentando a possibilidade de públicos de diferentes localidades e camadas sociais assistirem as partidas da competição que organizava.


Em 1935, foi criada uma nova entidade, então nomeada como Federação Metropolitana de Desportos (FMD). Mesmo sem a priori deixar de lado a lógica amadora a nova instituição passou a aceitar também equipes e jogadores assumidamente profissionais. Além disso, teve o retorno de outros times que outrora fizeram parte das competições da AMEA, como Vasco da Gama, São Cristóvão e Bangu.


O fato é que somente em 1937 que ocorreria uma modificação definitiva no âmbito do futebol profissional carioca que enfraqueceria de vez o discurso amador, refletindo mais uma vez o cenário nacional. Nesse ano, foi criada uma nova liga de futebol profissional no Rio de Janeiro, a Liga de Futebol do Rio de Janeiro (LFRJ). A intenção foi a de criar uma nova entidade, de forma que fossem extintas a FMD e a LCF.


O futebol em 1938 se enquadrou no discurso do Brasil enquanto um país da “democracia racial”. Esse discurso, que buscava construir a identidade brasileira como a nação do encontro das “três raças” (brancos europeus, negros africanos e indígenas americanos), seria muito difundido nas décadas posteriores a partir de trabalhos realizados por importantes acadêmicos do país, como o sociólogo Gilberto Freyre. Começou-se a construir a ideia de que os atletas negros do futebol brasileiro possuíam uma “malevolência” e um diferente gingado que contrastavam com o “frio” futebol europeu,


FONTES


Lemos, Rafael Medeiros de; Guedes, Raquel Cordeiro . A POPULARIZAÇÃO DO FUTEBOL NO RIO DE JANEIRO DURANTE A REPÚBLICA VELHA Revista Historiador. Número 01. Ano 01. Dez. 2008.Disponível em http://www.historialivre.com/revistahistoriador


Malaia, João Manuel. Rio de Janeiro, meios de transporte e a dinâmica

do futebol: a ocupação do espaço pelos clubes e ligas cariocas na Primeira República. Espaço e Economia Revista brasileira de geografia econômica 2 | 2013 Ano I, Número 2


Gomes, Eduardo de Souza Respeitável público: espetacularização e popularização do futebol profissional no Rio de Janeiro (1933-1941 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro / Brasil Doutorando em História Comparada, UFRJ



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