Quem passa ao seu redor ou vê à partir do chão mesmo a longa distância, dificilmente notará que por trás daqueles paredões de prédios existe uma montanha que um dia compôs poeticamente os cenários do Rio. Enfim, em tempos passados, já teve muito mais importância, era mais notado e até ponto de referência dos antigos moradores.
Na primeira metade do século 20, foi construída a Avenida Ruy Barbosa que contorna o morro do lado do mar. Na Av. Ruy Barbosa se inicia na ponta da Avenida Oswaldo Cruz do lado do Flamengo e segue até a outra ponta que chega em Botafogo, sendo que ambas as avenidas ligam os dois bairros. A avenida Ruy Barbosa pode ser tida como um prolongamento da Av. Beira Mar, aberta e construída sobre aterros em 1906, avenida esta que segue ao longo de parte da orla do Rio, desde o final da Av. Rio Branco na Cinelândia até o final da Praia do Flamengo.
A Câmara da Cidade do Rio de Janeiro, era tida como proprietária do morro, até antes dos anos de 1667 e 1753, quando foram feitas medições da sesmaria de sua propriedade, e uma das referências da sesmaria seria a "casa de pedra", que constava como ponto de referência.
O Morro da Viúva tinha outro nome antes de 1753. Inicialmente foi chamado de Morro do do Lery, por causa do missionário protestante francês Jean Lery, que esteve na Guanabara juntamente com Villegaignon, na metade do Século 16, pouco antes da fundação da Cidade do Rio de Janeiro por Estácio de Sá. Em função de desentendimentos com Villegaignon, Lery teria residido na "Casa de Pedra" próxima ao Morro da Viúva mas perto da Foz do Rio Carioca. Esta casa de pedra, foi provavelmente erguida por Martim Afonso de Souza quando esteve na Guanabara por três meses, em 1532. Em função da proximidade com o morro, durante algum tempo este teria sido chamado de Morro do Lery.
O nome de Morro da Viúva decorre do fato de, posteriormente ter pertencido à uma viúva chamada D. Joaquina Figueiredo Pereira Barros, tendo esta recebido a propriedade por herança de seu marido, Joaquim José Gomes de Barros.
Após a fundação da Cidade por Estácio de Sá em 1565 e da derrota definitiva dos franceses invasores e seus aliados tupinambás em 1567, Mem de Sá decidiu mudar a Cidade Velha do Morro Cara de Cão para algum ponto alto, distante da entrada da barra da Baía de Guanabara por motivos defensivos.
Havia muita preocupação com invasões corsárias e portanto, o local para os novos assentamentos deveria também proporcionar boa vista da entrada da baía, evitando assim serem pegos por ataques surpresas.
Entre os morros que poderiam ser escolhidos para construção de um forte e assentamentos, talvez estivessem os morros do Pasmado, o Morro da Viúva e o Morro da Glória, e o Morro de São Januário (depois chamado de Morro do Castelo) que proporcionavam pontos altos, mas eram de altura e topografia acessível.
Os morros do Pasmado e da Viúva eram pequenos e muito rochosos, e o morro da Glória bastante íngreme ou inclinado. Existia também o Morro de Santo Antônio, mas este era mais afastado do mar, além de ter uma lagoa à sua frente, onde hoje é o Largo da Carioca. Certamente foi escolhido o Morro de São Januário (depois chamado Morro do Castelo ou Morro do Descanso), pois além de ter área suficiente, tinha vista para a entrada da Baía e era um ponto alto próximo ao mar. Esta última característica tinha duas vantagem, condições adequadas para instalar baterias de tiro e contato próximo com as naus da coroa que aqui aportavam, para trazer suprimentos e levar mercadorias.
O Morro da Viúva, embora fosse também bem localizado, tinha como vantagem estar perto da foz do Rio Carioca, mas como desvantagem sua formação geológica rochosa, o que dificultaria a construção do casario, edificações e fortaleza, como as que foram erguidas no Morro do Descanso (ou Morro do Castelo).
Embora inúmeras forticações e baterias de tiro tenham sido instaladas em diversos pontos da Baía de Guanabara, o Morro da Viúva ficou esquecido para fins militares até a segunda metade do século 19. Quando aconteceu a Questão Christie, um polêmico atrito diplomático entre o Brasil e Inglaterra (o mais correto seria dizer Reino Unido), uma fortificação foi erguida no morro, em 1863, cujo intuito era defender a enseada de Botafogo e praia do Flamengo até próximo ao Passeio Público. Esta fortificação do Morro da Viúva era uma bateria suplementar de defesa e apoio às Fortalezas de São João, Lage e Villegignon.
Entretanto, devido à distância das demais fortalezas e o pequeno espaço disponível no local e a pouca altura de instalação, a tornavam vulnerável Em função das desvantagens, a bateria de tiro instalada no local nunca teve grande importância e não consta de muitos relatos. Entretanto, não tendo grande importância ou tendo sido posteriormente desprezada, o Morro da Viuva foi novamente fortificado durante a Revolta da Armada, entre os anos de 1893 e 1894. Armada era o nome que se dava à Marinha naquela época.
Em 1878, foi inaugurado um reservatório de água no alto do morro, na área antes usada pelo forte, como parte do plano do governo imperial para usar a água dos mananciais da Tijuca para abastecer os bairros de Botafogo, Praia Vermelha e Leme. Esse reservatório exite até hoje mas não está mais em funcionamento.
Tanto o Morro da Viúva como o Morro da Pasmado, um em cada extremidade da Enseada de Botafogo, forneceram pedras para construções do Rio de Janeiro, tanto nos tempos coloniais como também nos tempos do Império. As pedras em granito usadas na construções do Mosteiro de São Bento, assim como para outras obras dos governos de então, vieram do Morro da Viúva. Do Morro do Pasmado, foram extraidas a pedras para a "cantaria" ou partes construtivas em pedra do Castelinho da Ilha Fiscal.
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