O Bairro Imperial de São Cristóvão é um tradicional bairro da Zona Norte do município do Rio de Janeiro, no Brasil. Faz limite com os bairros históricos de Caju e Santo Cristo, com os movimentados e recentes bairros de Benfica, Praça da Bandeira, Maracanã, com a Mangueira e com o bairro do Vasco da Gama.
No local do atual bairro, havia uma aldeia indígena dos tamoios, da tribo dos araroues, aliados dos franceses quando do estabelecimento da França Antártica. Dizimados na campanha de 1567, em seu lugar estabeleceram-se os temiminós de Arariboia, que, na região, teriam estabelecido uma nova aldeia com o nome cristão do seu líder: Martinho.
A colonização efetiva da área se daria ao longo do século XVII, com a fundação da Igreja de São Cristóvão em 1627, então à beira-mar. Afirma-se que, à época, os pescadores amarravam as suas embarcações junto às portas da igreja para comparecer às missas. Outro eixo integrador era o Caminho de São Cristóvão, primitiva via que ligava a cidade do Rio de Janeiro aos engenhos de açúcar e roças do interior. A prosperidade do comércio surgido no entroncamento do ancoradouro com a antiga via fez surgir uma vila denominada de São Cristóvão, nome do padroeiro da igreja.
Em 1759, o Marquês de Pombal ordenou a expulsão dos jesuítas, e o governador da Capitania do Rio de Janeiro confiscou as terras de São Cristóvão aos jesuítas. As fazendas da região foram divididas em quintas e sítios menores, entre os quais a Quinta da Boa Vista, que foi desmembrada, tendo passado à posse de particulares
Os anos correram e um só homem passou a tomar conta de todo espaço que hoje comporta a Quinta da Boa Vista: o comerciante português Elias Antônio Lopes, conhecido traficante de negros escravizados. A presença de Elias no lugar inspirou o atual nome. No ano 1803, Elias ergueu um casarão sobre uma colina, da qual se tinha uma boa vista da baía de Guanabara e, do outro lado, a floresta da Tijuca e o do morro do Corcovado. Isso deu origem ao nome ‘Quinta da Boa Vista’” depois conhecido como "Paço de São Cristóvão", quando foi escolhido por D. João VI para ser o Palácio Real da Casa de Bragança, sete anos mais tarde. Após a Independência do Brasil tornou-se o Palácio Imperial, sendo vizinhado por outros solares onde residiam as famílias da nobreza; o que lhe deu a alcunha de Bairro Imperial. Dada a carência de espaços residenciais no Rio de Janeiro, Elias doou a sua propriedade ao Príncipe-regente Dom João VI, para transformá-la na residência real. Este foi um belo golpe de estratégia de Elias, pois sendo conhecido por ter a melhor casa do Rio e ao oferecer tal tesouro ao Príncipe-regente, foi recompensado com outra propriedade que, embora fosse mais simples em estrutura, era bastante boa, em particular em frente à possibilidade de ficar sem nenhuma caso não tivesse avançado tão habilidosamente. O comerciante também recebeu títulos de nobreza, além da a quantia de 21:929$000 – vinte e um contos, novecentos e vinte e nove mil réis – referentes ao pagamento das obras já realizadas e uma mensalidade para a conservação do edifício .O Príncipe-regente sentiu-se muito honrado com o gesto e a Quinta passaria a ser a sua morada permanente no Brasil, saindo do Paço Imperial da Praça XV
Entretanto, o mar incomodava e manguezais e pântanos se estendiam pela região, incomodando os moradores com insetos e mau cheiro. Em torno da quinta, cresceram casarões, pavimentaram-se ruas, instalou-se iluminação pública. Ao longo do século XIX, o mar foi aterrado em vários metros (o acesso à Igreja de São Cristóvão passou a ser a pé) e os pântanos erradicados.
A família real portuguesa residiu no Paço de São Cristóvão até o regresso de dom João VI a Portugal. Seu filho Pedro I e a Imperatriz, D. Leopoldina, após o casamento em 1817, passaram a residir no Paço. Ali nasceram a futura Rainha de Portugal, D. Maria II (4 de abril de 1819), nascida Dona Maria da Glória de Bragança, princesa da Beira, mais tarde princesa imperial do Brasil, e o futuro imperador do Brasil, D. Pedro II (2 de dezembro de 1825), cresceu no bairro e, de lá, governou o Brasil por quase meio século. Também ali veio a falecer, em 1826, a imperatriz Dona Maria Leopoldina. No Paço nasceu, em 29 de julho de 1846, a Princesa Isabel, filha de D. Pedro II com D. Teresa Cristina.
Para acomodar a família real, o casarão da quinta, mesmo sendo vasto e confortável, necessitou ser adaptado. A reforma mais importante iniciou-se à época das núpcias do Príncipe D. Pedro com Maria Leopoldina da Áustria (1816), estendendo-se até 1821. Foi encarregado do projeto o arquiteto inglês John Johnston, que, além da reforma do paço, fez instalar um portão monumental em sua entrada, presente de casamento do general Hugh Percy, 2.º Duque de Northumberland. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, esse portão encontra-se atualmente destacado, como entrada principal, no Jardim Zoológico do Rio de Janeiro.
Entre as reformas empreendidas por D Pedro II na propriedade contam-se as enormes obras de embelezamento dos jardins, as quais, muitas características originais permanecem até os dias atuais, como a Alameda das Sapucaias, um lago onde hoje se pode andar de pedalinhos e outro onde se encontra uma gruta artificial onde podem alugar-se canoas a remo.
A chegada da Família Real provocou uma série de transformações no bairro. Ao longo do reinado de dom Pedro II, a partir de São Cristóvão, iniciou-se a instalação de indústrias e a modernização da cidade com a instalação de uma central de telefones (a primeira linha da América do Sul servia o Paço de São Cristóvão) e uma rede de postes à luz elétrica nas ruas. O imperador ainda inaugurou o Observatório Nacional do Rio de Janeiro, centro de estudos avançados em astronomia e, ainda hoje, um dos principais centros dessa ciência no Brasil
A partir do século XIX, a industrialização mudou o perfil do bairro, já não mais um lugar tranquilo próprio para o passeio de famílias. Iniciou-se a deterioração das construções mais antigas. Com o golpe de estado que instalou a república, a elite se redirecionou para os jovens bairros de Botafogo e Copacabana. O Palácio tornou-se a sede da Assembleia Nacional responsável pela Constituição Brasileira de 1891 e posteriormente do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Ao longo do século XX, São Cristovão chegou a ser considerado o bairro mais industrializado da América do Sul. Logo nas primeiras décadas, houve a expansão do Porto do Rio de Janeiro, levando às sucessivos aterros na região, inclusive em sua praia, hoje já inexistente. Em 1940, foi inaugurada a Avenida Brasil, principal via de escoamento da produção do bairro. Junto com as indústrias, vieram imigrantes de todas as partes do Brasil à procura de emprego. Houve um processo de ocupação desordenada e favelização das áreas em torno das fábricas. Ao passo em que havia a ocupação de imigrantes, a classe média se moveu para os bairros da Zona Sul da cidade. Os antigos sobrados e casarões foram transformados em pequenas lojas comerciais e pensões.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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