O Bar Amarelinho foi fundado em 1921, na Cinelândia, que na época, por abrigar teatros, cinemas que recebiam a elite carioca, era considerada “Broadway Brasileira”. Ao início dos anos 1920 o Amarelinho chamava-se Café Rivera, diante do qual havia um pequeno repuxo luminoso. Como vizinho existia também a elegante Casa Flórida, cuja refinada clientela costumava frequentar o Rivera, que passou a ser “Amarelinho”, em decorrência da cor predominante das paredes externas do edifício, onde fica localizado, térreo do prédio Amadeus Mozart, localizado na Praça Floriano , número 55.
Entre os assuntos que foram discutidos na mesa do mar e geraram grandes frutos estão a Semana de Arte Moderna, o início da Era Vargas, a luta pela igualdade racial e os movimentos nacionalistas no Brasil, a fundação do Partido Comunista nacional, entre muitos outros. Quanto às pessoas, Oscar Niemeyer, Mário de Andrade, Joel Silveira, Vinicius de Moraes são só alguns dos célebres nomes que marcavam presença no Bar Amarelinho.
Entre muitas pessoas, dois espanhóis marcam a história do Amarelinho. O primeiro foi Francisco Serrador, empresário que investiu pesado na evolução da Cinelândia, instalando cinemas e teatros no local, possibilitando o crescimento também do bar
O segundo espanhol fundamental para a história desse brasileiríssimo bar foi José Lorenzo Lemos. José Lorenzo Lemos guarda da sua infância lembranças das consequências da Guerra Civil na Espanha e do amargo regresso de soldados espanhóis que, entre 1942 e 1945, combateram ao lado da Alemanha na 2ª Guerra Mundial, na frente russa, integrando a Divisão Azul organizada pela ditadura de Franco.
Após o conflito mundial milhares de espanhóis buscaram em outras terras melhores condições de vida. E assim, Lorenzo, em 1956, aos 18 anos embarcou no porto de Vigo. Na Praça Mauá, não encontrou quem devia estar esperando-o para conduzi-lo no Brasil. Ao desencontro, seguiu-se o drama: sem dinheiro (tudo tinha sido gasto com as despesas de viagem), sem falar português, sem rumo em terra estranha. Mas, em meio àquela angústia, teve a ajuda de alguém que o conduziu ao encontro, ali mesmo na Praça Mauá, do então famoso Zica, dono de estabelecimentos comerciais, bares e casas de diversões, figura de grande poder na movimentada área portuária do Rio.
Deslumbrado com a cidade e com o povo carioca, Lorenzo começou sua vida de copeiro e auxiliar de serviços gerais em bares na Praça Mauá, passando depois a garçom. Morava num quarto do prédio da Avenida Rio Branco, 55 e foi fazendo economias, o que lhe possibilitou comprar, tempos depois, um pequeno bar (o Baiano) em Caxias. Sempre progredindo, adquiriu o bar “Simpatia”, na Cinelândia, e em 1970 tornou-se sócio do Amarelinho e ajudou o estabelecimento a se reerguer em período difícil. Nessa época, a badalada área da Cinelândia não passava por uma boa fase devido ao desaparecimento do Palácio Monroe, fechamento de muitos teatros e cinemas e às obras do metrô, que transformaram a histórica praça em um canteiro de entulhos e máquinas.
Em 2021, um dos ícones da cultura e da boemia carioca, que como outros estabelecimentos do ramo sofreu os efeitos da pandemia e fechou em março. O Amarelinho chegou a ficar fechado por oito meses em 2020, por conta das medidas de restrição impostas pela pandemia do novo coronavírus. O bar foi reaberto em dezembro e em março fechou as portas novamente. Na ocasião, os antigos donos alegavam que tinham uma despesa de R$ 300 mil para manter o estabelecimento funcionando, com a baixa clientela, embora assegurassem que o fechamento era temporário. Os funcionários temiam o fechamento definitivo do Amarelinho, já que o antigo dono José Lorenzo Lemos, estava muito idoso — ele tem 92 anos — e os filhos não tinham interesse em tocar o negócio. O bar acabou sendo assumido pelo empresário Antonio Rodrigues, dono da rede Belmonte e foi reaberto em novembro de 2021, quando recebeu a placa de patrimônio cultural carioca.
REFERÊNCIA
https://extra.globo.com/noticias/rio/dono-do-belmonte-assume-amarelinho-promete-reabrir-bar-tradicional-da-cinelandia-em-setembro-apos-obras-25117163.html
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