Com a aceleração do processo de loteamento das chácaras, a partir dos anos 1850, e a consequente aglomeração de moradores, o bonde, hoje tão vinculado à identidade de Santa Teresa, chegou ao bairro em 1872. No fim do século XIX, a função do aqueduto é modificada com a eletrificação dos bondes, que se tornam o meio de transporte habitual no Rio de Janeiro. Trilhos são colocados sobre o Aqueduto da Carioca, tornando-se elemento fundamental para acessibilidade e crescimento do local.
Instalados para ligar Santa Teresa ao Centro, passando pelos Arcos da Lapa, os bondes surgiram como uma alternativa para se locomover pelo bairro sem precisar enfrentar as íngremes ladeiras. Os primeiros bondes eram pintados de verde, prata e azul, porém, foram repintados de amarelo após reclamações de moradores que diziam que os bondes eram quase imperceptíveis em meio à vegetação.
Um plano inclinado partia da Rua do Riachuelo e subia a Ladeira do Castro até o Largo dos Guimarães, de onde partiam os carris para o Silvestre e o morro de Paula Matos (região do bairro voltada para o Catumbi). Na época, Machado de Assis preconizou que, com os bondes, o bairro viraria moda. E realmente entrou em voga o hábito de “tomar a fresca” em Santa Teresa e nos destinos das linhas da Companhia de Carris Jardim Botânico, que explorava os trajetos entre o Centro e a então bucólica e pouco habitada Zona Sul da cidade.
Em clima festivo e com a presença do então presidente da República Prudente de Morais, inaugurou-se, em 1º de setembro de 1896, a linha de bonde eletrificada que ligava Santa Teresa ao Centro através do antigo Aqueduto da Carioca. Desde então, o bonde virou ícone do bairro. Em 1963, um decreto do governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, extinguiu as linhas de bonde da cidade, mas Santa Teresa resistiu.
Segundo o historiador Milton Teixeira, em janeiro de 1967, quando fortes chuvas provocaram vários estragos e acidentes no Rio de Janeiro, as duas linhas de bonde remanescentes da cidade – Santa Teresa e Alto da Boa Vista – foram atingidas por descargas elétricas que danificaram as usinas geradoras de energia e os motores dos carros. Sabendo que este seria o argumento do governo para acabar com a linha de Santa Teresa, os funcionários da companhia trocaram os motores dos bondes por outros mais antigos que ainda funcionavam e fizeram um gato na subestação da Light na Glória para conseguir energia. O então governador Negrão de Lima, ao ver a linha funcionando normalmente, não teve argumento para extingui-la.
Em 1988, um acidente na linha Paula Matos recrudesceu os argumentos favoráveis à extinção dos bondes. Mas os moradores de Santa Teresa resistiram, e o bondinho – que a essa altura da história já tinha virado uma espécie de “alma” do bairro e um dos ícones da cidade – foi, finalmente, tombado pelo governo do estado. Em 2011, novo acidente: um turista francês caiu do bonde e passou pela grade de segurança dos Arcos da Lapa ao tentar um melhor ângulo para fotografar a cidade, vindo a falecer imediatamente Posteriormente, no mesmo ano, o bonde descarrilhou. No acidente morreram seis pessoas e cerca de 60 pessoas ficaram feridas. Os serviços foram interrompidos com a promessa de substituição dos velhos carros por outros com mais segurança. Voltou a funcionar em 2015 com trajeto e horário restrito e hoje são em poucos números, passam num intervalo grande e a tarifa é de 20 reais. Moradores cadastrados usam o transporte de graça. O bondinho de Santa Teresa é tombado pelo IPHAN. O bonde é um elemento secular capaz de proporcionar ao visitante uma experiência singular. A sua importância histórica para a construção da identidade, tanto a de Santa Teresa como a da cidade do Rio de Janeiro, é notória. O seu valor é grandioso para os visitantes e moradores de Santa Teresa
Museu do Bonde – Boa parte da história dos bondinhos pode ser vista no Museu do Bonde, que expõe peças variadas referentes a esse meio de transporte Funciona nas dependências da garagem e oficina de manutenção dos bondes de Santa Teresa, na proximidade do Largo dos Guimarães. O acervo mostra a história cotidiana desse meio de transporte desde os tempos em que era puxado a burro, ao longo das décadas em que foi o principal meio de deslocamento na cidade. Além de peças originais, o museu conta com réplicas dos bondes em miniatura e com um grande acervo iconográfico, com fotos do Rio Antigo.. Ali podem ser vistos tíquetes antigos, uniformes de condutores e relógios originais, além de maquetes e réplicas de bondes.
REFERÊNCIAS
Perlingeiro, Thais Alves. OS BONDES DE SANTA TERESA EM REVISTA: UM LONGO TRILHO TRAÇADO DO PASSADO AO PRESENTE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Turismo. NITERÓI 2013
Comments