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"O ESPETÁCULO MAIS TRISTE DA TERRA - O INCÊNDIO DO GRAN CIRCO NORTE AMERICANO"

  • Foto do escritor: danielericco
    danielericco
  • 27 de mar. de 2023
  • 5 min de leitura


Esse é o nome do livro de Mauro Ventura que conta a história dessa catástrofe. A tragédia do Gran Circus Norte-Americano foi um incêndio criminoso ocorrido em um circo, na cidade brasileira de Niterói, estado do Rio de Janeiro, em 17 de dezembro de 1961, com saldo de 503 pessoas mortas e mais de 800 feridos. Foi a maior tragédia desse tipo em número de mortos no Brasil. É considerado também a maior catástrofe mundial já ocorrida em uma arena circense

O Gran Circus Norte-Americano estreou em Niterói, em 15 de dezembro de 1961. Os anúncios diziam que era o maior e mais completo circo da América Latina. Tinha cerca de 60 artistas, 20 empregados e 150 animais. O proprietário, Danilo Stevanovich, havia comprado uma lona nova, que pesava seis toneladas e seria feita de náilon - detalhe que fazia parte da propaganda. O Norte-Americano chegou a Niterói uma semana antes da estreia e instalou-se na praça Expedicionário, na avenida Feliciano Sodré, centro da cidade. Apesar do nome era um circo brasileiro.

A montagem do circo demandava bastante tempo e muita mão de obra. Danilo contratou cerca de 50 trabalhadores avulsos. Um deles, Adílson Marcelino Alves, o “Dequinha”, tinha antecedentes na polícia por furto e apresentava problemas mentais. Trabalhou somente dois dias e foi demitido por Danilo Stevanovich. Dequinha ficou inconformado e passou a ficar rondando as imediações.

Na estreia, 15 de dezembro de 1961, o circo estava tão cheio, que Danilo Stevanovich mandou suspender a venda de ingressos, para frustração de muitos. Nessa noite, Dequinha tentou entrar no circo sem pagar o ingresso, mas foi visto e impedido pelo domador de elefantes, Edmilson Juvêncio.

No dia seguinte, 16 de dezembro, sábado, Dequinha continuava a perambular pelo circo e começou a provocar o arrumador Maciel Felizardo, que era constantemente acusado de ser culpado da demissão de Dequinha. Seguiu-se uma discussão e Felizardo agrediu o ex-funcionário, que reagiu e jurou vingança.

Na tarde de 17 de dezembro de 1961, Dequinha se reuniu com José dos Santos, o "Pardal", e Walter Rosa dos Santos, o “Bigode”, com o plano de pôr fogo no circo. Eles se encontraram num local denominado "Ponto de Cem Réis", na divisa do bairro Fonseca com o centro da cidade, e decidiram colocar em prática o plano de vingança. Um dos comparsas de Dequinha, responsável pela compra da gasolina, advertiu o chefe sobre lotação esgotada do circo e iminente risco de mortes. Porém, Dequinha estava irredutível: queria vingança e dizia que Stevanovich tinha uma grande dívida com ele.

Com três mil pessoas na plateia, era 15h45 quando faltavam 20 minutos para o espetáculo acabar, e a trapezista Nena (Antonietta Stevanovich, irmã de Danilo) notou o incêndio. Em pouco mais de cinco minutos, o circo foi completamente devorado pelas chamas. O desespero se instalou, muitas pessoas morreram pisoteadas na tentativa desesperada de sair daquele inferno. Os corpos empilhados impediam a passagem de outros enquanto o derretimento da lona parafinada, segundo testemunhas, fazia chover labaredas entre as pessoas.



372 pessoas morreram na hora e, aos poucos, vários feridos morriam com a demora da chegada das equipes de resgate, chegando a mais de 500 mortes, das quais 70 % eram crianças. Ironicamente, a fuga da elefante Sema da sua jaula, foi o que acabou por salvar a imensa maioria. O animal com sua força, arrebentou com parte da lona, abrindo caminho a um maior número de sobreviventes a fugir. A lona, que chegou a ser anunciada como sendo de náilon, era, na verdade, feita de tecido de algodão revestido de parafina, um material altamente inflamável.

Por coincidência, naquele dia, a classe médica do estado do Rio de Janeiro estava em greve. O Hospital Antônio Pedro, o maior de Niterói, estava fechado. A população arrombou a porta e, os médicos em greve foram sendo convocados através da rádio, pelos soldados do Exército Brasileiro, os quais compareceram ao hospital de imediato. Médicos de clínicas privadas também foram atender ao hospital. Inclusivamente, outros circos, cinemas e teatros de Niterói, Rio de Janeiro e outras cidades vizinhas cancelaram seus shows e espetáculos para averiguar se haveria médicos entre o público, tal foi a dimensão da catástrofe. Padres também foram convocados emergencialmente, para darem a unção dos enfermos (antes chamada extrema-unção) às vitimas que já se sabia que não tinham qualquer hipótese de sobrevivência. Nos dias seguintes, várias personalidades da elite fluminense e brasileira deslocaram-se à Niterói para prestar o máximo de apoio e auxílio às vitimas. Dentre essas personalidades estava o então ex-presidente João Goulart.

As agências funerárias não tinham mãos e tempo a medir, tal era elevado o número de caixões que eram necessários para enterrar as vítimas. O Estádio Caio Martins foi transformado numa oficina provisória para a construção rápida de urnas, com carpinteiros da região a trabalharem dia e noite. Os cemitérios municipais de Niterói logo ficaram com os túmulos esgotados; assim, um terreno de roça no município de São Gonçalo, vizinho de Niterói, foi usada de urgência como cemitério para enterrar os restantes corpos.

Com base no depoimento de funcionários do circo que acompanharam as ameaças de Dequinha, ele foi preso em 22 de dezembro de 1961, assim como seus cúmplices "Bigode" e "Pardal". Em 24 de outubro de 1962, Dequinha foi condenado a 16 anos de prisão e a mais 6 anos de internação em manicômio judiciário, como medida de segurança. Onze anos após, em 31 de janeiro de 1973, ele fugiu da Penitenciária Vieira Ferreira Neto, em Niterói, e foi encontrado morto com 13 tiros no alto do morro Boa Vista, na mesma cidade. O autor do crime jamais foi descoberto. Bigode recebeu 16 anos de condenação, e mais 1 ano em uma colônia agrícola. Finalmente, Pardal foi condenado a 14 anos de prisão, e mais 2 anos em colônia agrícola.

Vale ressaltar que dois circos de propriedade de Danilo, Búfalo-Bill e o Shangri-lá, também pegaram fogo em 1951 e 1952. Ele continuou na atividade até sua morte em 2001. Um dos artistas do circo, o palhaço Doracy Campos, conhecido como Treme-Treme passou anos declarando que as instalações elétricas eram inadequadas. Na época a imprensa noticiou problemas que havia no circo, como: Instalações Elétricas precárias; Falta de extintores; Falta de saída de emergência. Opositores do Governador Celso Peçanha o acusavam de encobrir os verdadeiros fatos para não ser responsabilizado. Pois o circo tinha sido autorizado a funcionar, mesmo que não apresentasse as condições necessárias.

Na época o jovem Pitanguy ainda não tinha a fama que tem hoje, e era professor na PUC-RJ. Naquele dia estava a caminho do trabalho quando escutou as notícias no rádio. Prontamente dirigiu-se até o Iate Clube do Rio, onde ficava sua lancha particular. De lá atravessou a Baía de Guanabara para chegar até Niterói e auxiliar as vítimas. Durante muito tempo Pitanguy continuou a tratar as vítimas da tragédia do Gran Circus Norte-Americano na Santa Casa, em São Paulo. Este episódio exigiu dos médicos criatividade e busca de novas técnicas no tratamento. Isso colocou o Brasil na liderança da cirurgia plástica no mundo e propiciou um dos casos pioneiros de uso de pele liofilizada.



FONTES



www.ofos.com.br/incendio-gran-circus-rio-de-janeiro-1961/


Jornais Folha de São Paulo (acervo digital), O Estado de São Paulo (acervo digital), O Globo (acervo digital); Portais Terra, Aventuras na História, globo.com, A Tribuna RJ; Revista Super Interessante; Programa de TV Linha Direta da Globo.


 
 
 

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