Vencer distâncias e transportar coisas de um ponto a outro sempre foi uma necessidade das sociedades humanas. Sem formas de locomoção não teria sido possível estabelecer, por exemplo, sistemas de comércio. Não à toa, ainda no período Neolítico, o homem aprendeu a domar animais para utilizá-los como meio de transporte e a fazer embarcações para levar cargas e pessoas. Com a invenção da roda, surgiram as primeiras carroças movidas à tração animal, melhorando a comunicação entre os grupos sociais.
Período colonial no Brasil
No Período Colonial não encontramos propriamente transportes coletivos. Os transportes eram destinados a levar apenas um indivíduo, como, era o caso das “redes”, das “cadeirinhas” e das “serpentinas”. Havia outros, como as “liteiras”, que podiam transportar duas pessoas eram utilizados em percursos mais curtos.
E em alguns casos, sobretudo para viagens para fora do perímetro urbano, era possível contar com os “carros de bois” e as “cavalgaduras”, veículos que podiam carregar quatro ou cinco passageiros. Estes transportes eram movidos à tração animal ou humana (mão-de-obra escrava) e serviam, sobretudo, aos “fidalgos”, “homens de governança”, “burgueses de maior riqueza”, “burgueses de menores haveres”, “jesuítas”, “bispos”, “vigários” e a “outros dignitários membros da igreja”. Como estes usuários eram os proprietários dos transportes e, até o século XVIII não havia aluguel de veículos, restava aos demais segmentos sociais a exclusão dos meios de transportes. .Os pobres andavam a pé. A população da cidade estava habituada a ver os mais pobres andando a pé, a cavalo ou quando muito em diligências e os membros das elites em seus transportes próprios e individuais. Possuir um meio de locomoção particular naquele contexto era símbolo de status, a ponto de alguns proprietários trazerem seus títulos nobiliárquicos afixados na parte da frente dos seus carros. Era comum, também, que aqueles que alugassem algum veículo particular, vestissem o boleeiro e o lacaio com libré de sua casa para fazer passar os carros como seus.
Até as primeiras décadas dos anos 1800, o meio de transporte mais utilizado no Rio de Janeiro para percorrer longas distâncias eram os barcos. Havia pontos para atracação de embarcações por toda a Baía de Guanabara, a exemplo de Inhaúma, Penha, Glória, Botafogo, Caju, São Cristóvão e Ilha do Governador, entre outros. Isso sem citar os cais da região central: Valongo, Prainha, Mercado do Peixe, Mineiros e Praia de D. Manuel, sendo que, destes dois últimos, partiam embarcações para Magé (Porto Estrela) e Niterói. Parte dos barcos que circulavam pela Baía de Guanabara era para uso exclusivamente particular. Mas muitos podiam ser contratados por serviço de aluguel (como se fosse um táxi), tanto para transportar pessoas como cargas.
No início do século XIX, a capital do império do Brasil era uma cidade com ruas estreitas, sinuosas, esburacadas e sem pavimentação, nas quais se acotovelam mercadorias e pessoas. As casas eram pequenas e simples. Nas suas ruas estreitas, lama e poeira. Foi neste Rio de Janeiro, de estrutura física tacanha, que se organizaram os primeiros transportes coletivos movidos a tração animal na primeira metade do século XIX. Inicialmente apareceram as diligências, logo seguidas pelas gôndolas, ônibus e tílburis, os quais começaram a conviver e a disputar espaço com carroças, seges, carruagens de quatro rodas, carros de boi e cabriolets, bem como com uma infinidade de carregadores que realizavam serviços básicos da cidade a pé, tais como o transporte do lixo e a condução de pipas d’água e de águas servidas.
Transporte público
Com a chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, a cidade cresceu rapidamente. A demanda por um sistema de transporte público, com horários regulares, que melhorasse a mobilidade urbana, passou a ser cada vez mais necessário.
Diligências
Diligência
Primeira concessão pública de transporte da cidade, dada por D. João VI em 1817. Fazia o trajeto Centro-Palácio da Boa Vista (São Cristóvão)- Fazenda de Santa Cruz e, inicialmente, tinha o objetivo de transportar o malote do correio e conduzir as pessoas que quisessem ter a honra de beijar a mão de Sua Alteza.
Pouco antes de 1850, já havia linhas de diligências para Botafogo, São Cristóvão e Tijuca. Na década de 1860, várias empresas faziam o serviço, inclusive para outros bairros. Alguns desses veículos chegaram a dividir espaço com os bondes, que chegaram em 1868.
Havia resistência aos transportes coletivos por parte de alguns segmentos da população. O caso das diligências é exemplar, neste sentido. Apesar de facilitarem o deslocamento de um maior número de pessoas, elas “recebiam passageiros descalços e sem colarinho... e transportavam trouxas de roupa e pequenas cargas, tabuleiros com doces, verduras e frutas, das que eram vendidas pelos mercadores ambulantes. Para uma elite acostumada à segmentação social, a “mistura” que os novos meios de transporte proporcionavam não era vista com bons olhos, por isto os tílburis podiam representar um ganho,
Tílburis.
Uma espécie de serviço de táxi que começou a circular em 1846. Tratava-se de um carro pequeno de duas rodas e dois assentos (um deles para o condutor), puxado por um só animal e com tarifa pré-determinada (preço por hora). No Centro, os tílburis faziam ponto na Rua Direita (atual Primeiro de Março). Como eram relativamente baratos e rápidos, tornaram-se bastante popular. Com o crescimento da indústria automobilística, no século XX, surgiram os táxis motorizados.
Ônibus e gôndolas
Gondolas
Primeiro ônibus a chegar ao Rio de Janeiro, tinha quatro rodas, dois andares, era puxado por quatro animais e podia levar até 23 passageiros. A concessão foi dada em 1837, mas só começou a circular no ano seguinte, fazendo os trajetos entre a Praça Tiradentes e os bairros de Botafogo, Tijuca (Engenho Velho) e São Cristóvão. Com a chegada dos bondes deixou de circular pelo Centro.
Com concessão pública datada de 1838, as gôndolas eram ônibus menores puxados por um par de mulas e com capacidade para nove passageiros. Sua estação principal ficava no Largo do Moura, nas proximidades da Praça XV. Em 1865, tinha oito linhas em atividade: Cidade Nova, Catumbi, Livramento (Gamboa), Botafogo, São Clemente, General Polidoro, Jardim Botânico e Laranjeiras. Também deixou de circular pelo Centro com a chegada dos bondes, mas ainda podiam ser vistas trafegando pelo subúrbio, no início do século XX.
Em 1908, começou a circular o primeiro ônibus movido por motor a combustão, ligando o Passeio à Praça Mauá. As linhas foram aumentando aos poucos e, após a II Guerra Mundial, começaram a dominar o sistema de transporte público na cidade.
Barcas
Em 1835, durante o período da Regência, foi dada concessão pública para fazer a travessia da Baía de Guanabara, entre o Cais Pharoux (atual Estação das Barcas) e a Praça Martim Afonso (atual Praça Arariboia). O trajeto era feito em barco a vapor, com capacidade para 250 passageiros. Em 1852, novas linhas foram criadas, ligando o Largo do Paço (atual Praça XV) à Praia de Botafogo, Ilha do Governador, Paquetá, Catete e Inhaúma.
Após passar por várias empresas, o serviço hoje opera com linhas que ligam a Praça XV a Niterói, Cocotá (Ilha do Governador), Paquetá e Charitas.
Trens
Foram o primeiro transporte de massa do Rio de Janeiro. O trajeto inaugural da Estrada de Ferro D. Pedro II ocorreu em 1858, entre a Estação da Aclamação (atual Central do Brasil) e Queimados, com transporte de cargas e passageiros. No mesmo ano também foram inauguradas as estações Engenho Novo e Cascadura e, nos anos subsequentes, várias outras entraram em operação.
No decorrer do século XIX, surgiram outras vias férreas, entre elas a Rio d’Ouro, aberta em 1883 para levar os materiais necessários à construção de uma nova rede de abastecimento de água entre a Serra do Tinguá, em Duque de Caxias, e o Caju. A via férrea foi desativada em 1970, mas parte de seu leito foi cedida para a construção da Linha-2 do Metrô.
A E. F. Leopoldina Railway foi inaugurada em 1898, no início período republicano, ligando o Rio de Janeiro a Porto Novo (atual cidade de Além Paraíba, em MG). A ferrovia abriu várias estações urbanas na cidade, dando origem ao termo “Subúrbio da Leopoldina” ao conjunto de bairros cariocas pelos quais sua linha atravessava.
Bondes
As mudanças no cotidiano da cidade tornaram-se ainda mais visíveis quando os transportes coletivos sobre trilhos nela foram introduzidos. A primeira linha de bonde puxado a burros foi inaugurada em 30 de janeiro de 1859 e era de propriedade da Companhia de Carris de Ferro da Cidade à Boa Vista na Tijuca, também conhecida como Companhia Ferro Carril da Tijuca.
A Companhia Ferro Carril da Tijuca teve, porém, vida curta e seus serviços foram suspensos em 1866. Dois anos depois, a empresa denominada Botanical Garden Rail Road Company, foi organizada nos Estados Unidos e teve seus trabalhos inaugurados com uma linha que ligava a Rua do Ouvidor ao Largo do Machado passando pelo Largo da Carioca, Rua da Ajuda, Passeio Público, Largo da Lapa, Rua da Glória e Rua do Catete. Em 1882, a empresa transferiu sua sede para o Rio de Janeiro passando a chamar-se Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico.
Os bondes eram inicialmente fechados, para 30 passageiros: dezoito sentados em dois bancos longitudinais e doze em pé, nas plataformas de frente e de traz e, rapidamente, os trajetos se expandiram para as zonas Sul, Norte e Oeste. O nascimento de vários novos bairros só foi possível em função da aliança entre empresários de bondes e empreendedores da construção civil. Inicialmente eram puxados a burros. Em 1884 a cidade possuía 344 bondes em circulação, A partir de 1892, passaram a trafegar sob linhas eletrificadas. As concessões foram dadas pelo governo a indivíduos e a empresas nacionais, que, na grande maioria dos casos, venderam-nas ao capital estrangeiro. Os bondes se estenderam rapidamente pela cidade, penetrando lugares, até então, pouco habitados, como podemos observar no caso de Copacabana.
As linhas de bonde abrangiam toda a zona urbana do Rio de Janeiro e seus subúrbios mais próximos, o que o fez, até as primeiras décadas do século XX, “o transporte coletivo por excelência, permitindo a qualquer pessoa ir, de qualquer ponto da cidade, aonde bem entendesse.
Em 1892, entraram em circulação os primeiros bondes elétricos da cidade. Eram baratos e bem mais rápidos que os bondes puxados por tração animal. Aos poucos, foi instalada uma infinidade de linhas que cortavam todas as zonas da cidade. Alguns bairros eram servidos por várias delas, de forma que o usuário podia escolher qual o deixaria mais perto de casa.
A retirada dos bondes de circulação ocorreu na década de 1960. Hoje, circulam apenas no bairro de Santa Teresa.
Metrô
A inauguração das primeiras estações da Linha 1 ocorreu em 1979, ligando a Glória à Praça XI. Com a expansão do trajeto para novos bairros e com o início da operação da Linha 2, em 1984, o transporte de massas do Rio de Janeiro foi impactado. A Linha 4 foi inaugurada em 2016, levando o metrô até a Barra da Tijuca.
BRT
BRT do Rio de Janeiro é um sistema de transporte coletivo do município do Rio de Janeiro, capital do estado homônimo, no Brasil. Ele opera desde 6 de junho de 2012, quando foi inaugurado pela administração do prefeito Eduardo Paes e do governador fluminense Sérgio Cabral Filho, contando com a presença do ex-presidente Lula. O projeto de Bus Rapid Transit and System é constituído de quatro corredores com BRTs de duas composições. , com o objetivo de promover um meio de transporte de massa mais sustentável. Trata-se de um ônibus de grande capacidade, com dois módulos, que opera em faixas segregadas na superfície. O intuito é reduzir as emissões de carbono na atmosfera e tornar o deslocamento do usuário mais rápido. Porém o desafio da implantação da rede foi bem maior que o normal pois estes corredores estão em vias expressas a serem construídas. Tal quantidade de obras que originalmente uma prefeitura sozinha não seria capaz de realizar em seis anos; período entre a escolha da cidade para receber a XXXI olimpíada e a realização desta em agosto de 2016. O projeto recebeu financiamento do Ministério das Cidades, Ministério dos Transportes, e Governo Fluminense além do capital da prefeitura e empréstimos do BNDES. Tendo até o fim de 2016 inaugurado os corredores do corredor TransOeste, TransCarioca, TransOlímpica.
VLT
O crescimento vertiginoso da frota de ônibus e de automóveis, durante o século XX, levou à saturação dos principais eixos de transporte do Rio de Janeiro e asfixiou a cidade com viadutos e altos índices de poluição atmosférica. O Veículo Leve sobre Trilhos foi imaginado com o objetivo de estancar esse processo e restaurar as áreas degradadas do Centro.
Inspirado nos bondes e inaugurado em 2016, o VLT circula pelo Centro, conectando os diversos pontos de chegada à região, reduzindo a quantidade de carros e de veículos na região central e promovendo uma forma de locomoção mais sustentável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Souza, Silvia Cristina Martins de O bonde nos trilhos da poesia e da prosa: História, literatura e transporte coletivo no Rio .. Revista de História Regional 20(1): 7-30, 2015
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