Cena de Carnaval, Giandomenico Tiepolo (cerca de 1754-1755) França
A origem do Carnaval não é a que se fala, já que se relacionavam as celebrações festivas das antigas civilizações comas folias contemporâneas. O que se viu, através de pesquisas mais apuradas, é que as festas não eram carnavalescas nem precursoras só do carnaval. As festas e celebrações das antigas civilizações influenciaram muitas comemorações distintas como festas juninas, rodeios e até o Halloween, mas não são considerados Carnavais. Haviam comemorações exageradas e trocas de papéis mas de maneira diferente do que se intitula como Carnaval atualmente. O Carnaval nos moldes contemporâneos foi uma invenção do século XIX.
A data referente ao Carnaval depende da data da Páscoa. Em 1582 foi criado o Calendário Gregoriano, adotado e promovido pelo papa Gregório. Esse é o calendário que usamos até hoje. Segundo a Bíblia, a morte e ressurreição de Jesus, os eventos celebrados pela Páscoa, deveriam ocorrer na época da Páscoa Judaica, que era celebrada na primeira lua cheia depois do equinócio da primavera no hemisfério norte (outono no hemisfério sul). A comemoração para os cristãos não é fixa e, portanto, acontece em data móvel e cada ano ocorre em uma data diferente entre 22 de março e 25 de abril. O Carnaval deveria ser comemorado 40 dias antes da Páscoa, período esse chamado de Quaresma.
As celebrações surgiram na Idade Média após a Igreja criar a Quaresma no séc XI, o que significava 40 dias de penitência sem comer carne. As pessoas se esbaldavam comendo toda espécie de excesso para compensar o período que se seguiria de privação. Ocorria uma inversão da vida cotidiana, com ritos de exagero ou deboche. As festividades eram semelhantes apenas no período – antes da Quaresma tanto para ricos quanto para pobres. Existiam formas de expressão da elite, a popular e até uma mistura das duas. Mas sempre havia uma interferência das classes dominantes sobre “ a verdadeira” festa do povo e um enfrentamento entre as diferentes formas de brincar.
A partir do século XIX, as coisas se modificam. Nesse período haviam dois pólos hegemônicos mundiais – a Inglaterra como pólo econômico e financeiro e a França como pólo cultural. Após a Revolução Francesa, entre 1789 e 1804, essas festas passaram a ser consideradas perniciosas e vergonhosas com leis proibitivas quanto ao uso de máscaras e fantasias além do estabelecimento de um toque de recolher. Muita das proibições estavam relacionadas ao receio de algum estopim para manifestações revolucionárias. Mesmo proibidas, as festas aconteciam às escondidas sempre com intuito de ridicularizar a sociedade elitista. Com o Império Napoleônico, há uma retomada das brincadeiras elegantes nos salões e retorno dos bailes de fantasias. E é após Napoleão que as bases do carnaval contemporâneo surgem, já que adquirem um jeito próprio e brincadeiras específicas nas primeiras décadas do século XIX.
Em 1830, em Paris, a burguesia estava no poder. Seu modo de lazer, passeios e festas eram pautados no que fosse ao gosto e aos modos da elite. Com isso, se inicia um Carnaval com luxo e esplendor dos bailes de máscara. Ocorre ocupação das ruas com carruagens, cupés, landaus, puxados a cavalo, enfeitados carregando foliões fantasiados
O Desfile do boi Gordo foi uma grande manifestação carnavalesca que remetia as festividades greco-romanas. Era um desfile de um boi cevado, fantasiado de fitas e guizos com um menino vestido de cupido em cima. Associado ao carrro do boi, outros carros desfilavam com foliões. Todo ano ocorriam disputas nacionais pela escolha do boi o que gerou incentivo e investimento de grandes empresas para a festa.
O Carnaval acontecia inclusive nas periferias mas a maioria das fontes de pesquisa eram baseadas em dados burgueses. Era considerado Carnaval só os bailes, passeios e o desfile do boi gordo para elite. O resto era deixado ao esquecimento e das outras folias se tinham poucos registros. Uma das poucas festas não burguesas relatadas era a Descida do Courtille – festa popular, com cortejo de bêbados, vadias, gente do povo e da elite nas últimas horas de amanhecer da quarta-feira de cinzas. Eram festas menos comentadas pela imprensa, mas enchiam bares e tavernas.
Paris acaba virando reduto carnavalesco mundial.e sua festa foi exportada para as grandes capitais do Ocidente e chega no Brasil. Em cada lugar adquire características.próprias. As festas no Rio de Janeiro, que na época, era a capital, são as que mais se assemelham aos moldes parisienses. Mas mesmo procurando imitar o modelo francês, não se conseguiu sufocar a festa das camadas populares. Festas que se influenciaram mutuamente produzindo novas formas carnavalescas que dialogaram entre si – uma verdadeira recriação da folia.
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