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Foto do escritordanielericco

OS ZUNGUS DO LARGO DA PRAINHA


Gravura de Debret (1768-1848) - "Negras cozinheiras, vendedoras de angu

A 100 metros da Pedra do Sal, fica o Largo da Prainha, na zona Portuária, área onde os negros se reuniam e era repleta de zungus, de acordo com a língua yorubá. No século XIX, o principal alimento dos escravos era o angu. Era servido em panelas nas ruas, preparado por mulheres negras, principalmente na região portuária e de comércio. Estas quitandeiras, como também eram conhecidas, podiam ser libertas ou “escravas de ganho”. O angu, como ainda hoje, era um alimento popular a base de milho moído, cozido e temperado, por vezes condimentado com carnes ou camarão. Adquirindo um certo dinheiro, essas mulheres se mudam para casas no centro do Rio e transformam essas casas em verdadeiros centros de resistência negra.

As casas de angu eram verdadeiros quilombos dentro das cidades, onde os negros faziam seus batuques, suas danças, reverenciavam seus orixás, inquices e voduns. Os Zungus formavam uma rede de apoio aos escravos fugidos e africanos recém chegados, eram casas que recebiam escravos e libertos de todo o Brasil (muitos da Bahia, que trouxeram do Recôncavo sua cultura) e do mundo. Ali era o centro da cidade negra, a cidade escondida.

Nos Zungus, comandados na sua maioria por essas mulheres negras ou libertos minas, a cultura “urbana negra brasileira” se desenvolveu. Nos Zungus, os negros, que tiveram seus familiares separados, criaram novas famílias. Ali, os capoeiras se refugiavam e trocavam informações, praticando suas cabeçadas, rasteiras e rabos de arraia. Zungu é o “rumor de muitas vozes”, casa de liberdade e resistência, local de tradição africana e brasileira, uma rede familiar e de irmãos. Isso, no século XIX

Muitos zungus eram quitandas e moradias ao mesmo tempo. As ruas estreitas e casas com arquitetura diferente da atual criavam verdadeiros labirintos e becos escondidos e um zungu era um ótimo esconderijo. Dessa época, surgem reclamações em jornais sobre os “barulhos dos negros” nos zungus e inúmeras prisões. Até na lei o zungu foi parar, em 1835. Os zungus foram colocados na clandestinidade, classificados como locais ordinário, lúgubres, imundos, ponto de reunião de desordeiros, vagabundos e gatunos. Eram perseguidos por instigarem e acobertarem negros fugidos, sendo considerados “casas de quilombo”. No Rio de Janeiro aconteceram campanhas contra os zungus em 1830.

Coincidentemente no Largo da Prainha se situa, hoje, um dos mais tradicionais restaurantes cujo prato principal é o angu – o Angu do Gomes – mas a história do restaurante não tem nada a ver com o passado dos zungus



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