A Praça 15 fica no Centro Histórico do Rio, próximo a rua do Mercado, a Primeiro de Março que passa nela, e tem como suas principais estrelas o Paço Imperial e o Arco do Teles. Surgiu a partir de uma sucessão de pequenos e contínuos aterros sobre a Baía de Guanabara, ocorridos entre a primeira metade do século XVII e o início do XX.
Era nessa região, entre os morros do Castelo e de São Bento que aportavam e partiam as embarcações que iam e vinham do Reino da África e do Rio da Prata, onde os traficantes negreiros da cidade costumavam vender boa parte dos escravos, na época da União Ibérica. Os navios ficavam fundeados no meio da Baía de Guanabara e as mercadorias e os tripulantes chegavam à terra firme por meio de pequenos barcos.
Nessa área aterrada, havia o Terreiro da Polé, como o povão dos anos de 1600 chamava o logradouro que, alguns séculos e aterros depois, se transformaria na Praça Quinze. O nome fazia referência ao pelourinho que existia ali. Oficialmente, contudo, denominava-se Rocio (ou Terreiro, ou Terreirão, ou Largo) do Carmo, por ficar em frente à Igreja e ao Convento de Nossa Senhora do Carmo, ambos localizados na Rua Direita (atual Primeiro de Março), a principal via da cidade até o fim do século XIX.
Nas imediações do terreirão, espalhavam-se canoas e pequenas embarcações pesqueiras. De frente para o mar, à esquerda, até a altura da Alfândega, ficava a Praia do Peixe, onde se desenvolveu um comércio de pescados e de produtos hortifrutigranjeiros vindos de barco, de vários lugares do fundo da baía. Era uma grande e permanente feira livre, o maior mercado de abastecimento da cidade, realidade que perdurou até meados do século XX, embora tenha ganhado outros formatos e lugares – todos no entorno da Praça Quinze – no decorrer dos tempos. O Mercado do Peixe era repleto de ambulantes, que aproveitavam o movimento portuário para oferecer seus produtos. Perambulavam entre o Terreirão do Carmo – no qual os barcos com pessoas de mais fino trato costumavam aportar – e o Cais dos Mineiros, o mais importante da cidade durante o século XVIII. Ficava na altura da atual Rua da Candelária e ganhou esse nome por ser o local onde o ouro das Minas Gerais era embarcado para Portugal. Por ele também passava a maior parte das mercadorias exportadas e importadas, inclusive os escravos.
Elevado ao status de Largo do Paço – nome que só mudou com a Proclamação da República –, fez com que o vice-rei Luís de Vasconcelos promovesse melhorias no antigo terreirão e em seu entorno, a começar pelo Mercado do Peixe, que foi reordenado e ganhou bancas de alvenaria, entre outras benfeitorias.
Ao longo do século XVII, com a construção do porto, a cidade se inseriu num sistema comercial que ligava Buenos Aires, RJ e Luanda por onde circulava o contrabando entre as Américas espanhola e portuguesa. Isto se aprofunda no XVIII com a produção aurífera em MG. O RJ virou o maior porto de entrada de africanos da América. A riqueza derivada do comércio proporcionou melhoramentos para a cidade. Ela se tornou o centro econômico e político colonial
O Rocio do Carmo sempre foi uma das áreas mais valorizadas da cidade colonial. No século XVIII, além da presença dos padres carmelitas – cujo trabalho sempre foi voltado ao atendimento da população mais abastada –, abrigava a Casa dos Governadores, que passou a se chamar Paço dos Vice-Reis em 1763, quando o Rio de Janeiro se tornou capital da colônia. Quando Dom João esteve no Rio de Janeiro, ele ocupou por algum tempo o prédio. Foi no Paço dos Vice-Reis que a família real se acomodou, junto com seu séquito, quando chegou ao Rio de Janeiro. Não demorou muito para o imóvel ser considerado inapropriado como residência real e o príncipe regente D. João e sua família se transferiram para a Quinta da Boa Vista. O Paço dos Vice-Reis, então elevado a Paço Real, passou a ser utilizado como sala de despachos e lugar onde aconteciam as festas de gala e as cerimônias oficiais, como a do beija-mão. A atual Praça XV era muito movimentada, uma região de comércio intenso onde toda a movimentação portuária acontecia.
Paço Imperial
Nessa área estava presente o poder religioso, com a igreja que se tornou Sé após 1808 e a de uma ordem terceira de elite. Deve-se lembrar que a escravidão, fonte da riqueza que proporcionou tudo isso, também estava lá. Se o Valongo tem importância na história da escravidão e da cultura negra, a Praça XV também tem. O Rio de Janeiro era uma cidade escravista, logo, a história negra e da escravidão está em todos os locais do centro histórico. Os negros foram os construtores da cidade, implementando e fazendo a manutenção dos melhoramentos citados anteriormente. A seu turno, os chafarizes da cidade, tal qual o que atualmente está na praça, eram pontos de sociabilidade negra, já que lá os escravizados se reuniam para coletar água e trabalhar.
Igreja Ordem Terceira do Carmo
Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé
Em 1816, aportou na cidade o belga Louis Adolph Pharoux, que, poucos anos depois, abriu um luxuoso hotel que fez história na cidade. Primeiro, estabeleceu-se na Praia do Peixe, nas proximidades da Rua do Ouvidor e, depois, transferiu-se para a esquina do Largo do Paço, onde começava a Praia de D. Manuel. O Hotel Pharoux – e seu famoso restaurante– virou ponto de referência e acabou emprestando seu nome ao novo cais, construído a partir de mais um aterro. O mais antigo, erguido durante a gestão do vice-rei Luís de Vasconcelos, em pouco tempo se tornou inoperante por sua baixa profundidade.
A partir de 1835, barcos a vapor passaram a operar linhas regulares para Niterói e outros pontos da Baía de Guanabara. Em 1834, partiu de lá a primeira navegação a vapor para Niterói. Da mesma Praça XV saiam barcas para vários bairros litorâneos do Rio de Janeiro. Com o movimento no Cais Pharoux, o Largo do Paço começou a ganhar nova fisionomia. As barcas e a circulação dos bondes na Rua Direita, a partir do final da década de 1850, foram emprestando ao lugar a imagem de movimento, barulho e circulação de populares.
A Praça XV também foi local de despedidas. Em 1889, com a Proclamação da República do Brasil, uma parte da família imperial partiu para o exílio em um navio que saiu da Praça.
A Estação das Barcas que existe hoje foi construída entre 1904 e 1912, sobre mais uma área de aterro. Eram tempos de remodelação da cidade, que, desde a posse do prefeito Pereira Passos, em 1902, passava por grandes transformações.
Mercado Municipal da Praça XV
Nessa mesma época, do lado direito da estação, na Praia de D. Manuel, foi inaugurado o Mercado Municipal da Praça Quinze, uma bela edificação de ferro, em estilo art nouveau, importada da Europa. As novas instalações tinham por objetivo substituir as atividades desenvolvidas no Mercado da Candelária, mercado que não condizia com os novos padrões higienistas da jovem República. Em dezembro de 1907, foi inaugurado o novo Mercado Municipal da Praça Quinze, com um perfil de comerciantes constituído predominantemente por imigrantes italianos, portugueses e espanhóis. Até 1962, quando foi demolido para abrir espaço ao Viaduto da Perimetral, funcionou como o principal posto de abastecimento da população em geral e de navios, hospitais, quartéis, restaurantes Desse Mercado Municipal, resta apenas uma única torre, onde funciona o Restaurante Albamar e um grande espaço vazio que se transformou na Praça Marechal Âncora. A construção da Perimetral também pôs abaixo o prédio do antigo Hotel Pharoux e partiu a Praça Quinze em dois pedaços, tirando de um deles a vista para a baía.
Restaurante Albamar
Hoje, a Praça XV, no Rio de Janeiro, é um local de muita movimentação e passagem no coração do Centro da cidade. Na pressa do dia a dia, muitos não devem reparar na paisagem que os cercam, mas ao sentar-se num dos bancos na praça, logo repararão na importância histórica do lugar. Local onde as histórias de vida de pessoas se cruzam, a Praça XV diz muito sobre a memória do Rio de Janeiro.
Da estação do VLT, deparamo-nos com o que restou de um importante chafariz do século XVIII, Chafariz do Mestre Valentim.. Assim como o Paço Imperial e o Arco do Teles. Do outro lado da Primeiro de Março, encontramos o Convento do Carmo. Na mesma rua nos chamam atenção as igrejas barrocas de Nossa Senhora do Carmo e da Ordem Terceira do Carmo. Em conjunto com os prédios atuais, percebemos as múltiplas camadas de temporalidades que se sobrepõem na praça.
Chafariz do Mestre Valentim
Arco do Teles
A Estátua Equestre do General Osório, inaugurada em 1894, localiza-se no centro da praça, em frente ao Paço Imperial. Em 1965, foi erguida a estátua equestre do rei dom João VI. Há quem diga que o monumento foi colocado onde Dom João teria desembarcado com a corte real em 1808.. A estátua mais recente da Praça XV é o de João Cândido, inaugurada em 2007, em memória a Revolta da Chibata, liderada pelo marinheiro.
General Osório
D João VI
João Cândido
REFERÊNCIAS
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