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Gustavo Dall"ara 1907
A Rua Direita, atual Rua Primeiro de Março, foi das primeiras ruas a ser abertas na cidade do Rio de Janeiro, no final do século XVI, marcando a descida dos colonizadores do Morro do Castelo para a várzea. Com isso, houve a transferência do eixo de poder para a Rua Direita e seus arredores e sua consolidação no fim do período colonial, especialmente após a chegada da Família Real Portuguesa, em 1808
Pensada e inaugurada para construção de ermidas, capelas e igrejas, vindo a ser, a rua da Sé da Cidade (igreja principal de uma diocese); primeiramente na Igreja de Santa Cruz dos Militares e, posteriormente, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, elevada à condição de Catedral da Sé.
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Igreja da Santa Cruz dos Militares
Graças ao depósito de aluvião entre os morros do Castelo e de São Bento foi possível o aterramento da várzea e a edificação do lado próximo ao mar do “caminho de Manuel de Brito”, que viria a tornar-se a “Rua Direita da Misericórdia ao São Bento”; tendo Direita o mesmo valor semântico de Direta, sendo uma rua cujo traçado acompanhava o recorte da costa.
No início da colonização, a rua era apenas um caminho ou praia, e possuía construções somente no lado impar ou esquerdo da numeração atual, e não era permitida construções do outro lado, para não obstruir embarque e desembarque. As primeiras construções feitas do outro lado do caminho, foram o Forte da Cruz, criada para a defesa da várzea, que posteriormente daria lugar sobre suas fundações à Igreja da Cruz dos Militares, como um pedido dos militares para que nela fossem sepultados seus restos mortais.
O primeiro dos ricos moradores a construir uma casa na rua, foi Diogo Amorim Soares, comprador do Engenho de Açúcar d´El Rey, engenho este construído no século 16, que posteriormente passaria à Rodrigo de Freitas, que daria nome à Lagoa em cujas margens ficava o engenho. Ao longo do tempo, os terrenos foram sendo ocupados por outros particulares. Um outro ilustre morador foi o rico e próspero comerciante, Antônio Elias Lopes, que doou à D. João VI o casarão da chácara da Quinta da Boa Vista.
A primeira capela construída foi a de Nossa Senhora do Ó, doada para os carmelitas, que foi a única Ordem Primeira que não ficava nos Morros da cidade, já que o Morro do Castelo foi ocupada pelos jesuítas, o Morro de São Bento pelos Beneditinos e o Morro de Santo Antônio pelos franciscanos. Os Carmelitas construíram o Convento do Carmo ao lado da capela que depois veio se tornar a Capela de Nossa Senhora do Carmo. A Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo foi construída em 1661 e concluída em 1669. É separada da Igreja de Nossa Senhora do Carmo por um corredor particular, com arcadas
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Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé
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Igreja da Ordem Terceira do Carmo
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Antigo Convento do Carmo
Como espaço simbólico religioso, tendo igrejas importantes e com o comércio começando a expandir, a Rua Direita atraiu também a presença da Coroa Portuguesa, com o estabelecimento do Paço Imperial para ser a casa do Governador-Geral em 1698, usado para esse fim até 1743. No Paço localizava-se também a Casa da Moeda, que até 1815, ocupou parte do andar térreo desse edifício. Com a chegada da família Real Portuguesa se tornou a primeira moradia da corte no Brasil.
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Paço Imperial
A chegada da Família Real Portuguesa ao Rio de Janeiro em 1808, levou a um reordenamento no entorno da Rua Direita. Os frades carmelitas foram desalojados de parte do Convento para que fosse ali instalada a Rainha-Mãe, D. Maria, e suas acompanhantes. A Capela de Nossa Senhora do Carmo foi transformada em Capela Real. Em 13 de junho de 1808 a Capela foi elevada a Catedral da Sé do Rio de Janeiro. As principais casas de comércio em determinados ramos se estabeleceram na região bem como o mercado de escravos, a chamada Praça do Comércio (atual Casa França Brasil) e a Alfândega.
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Casa França - Brasil
Com a inauguração da Rua Sete de Setembro para permitir o abastecimento de água ao chafariz do Largo do Paço (atual Praça XV de Novembro) se construiu um passadiço entre a Catedral e o Paço, pelo qual transitavam os integrantes da Corte para assistir aos ofícios religiosos.
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Pintura de Thomas Ender retratando ao fundo o passadiço que ligava o Paço ao Convento
A Rua Direita tornou-se ponto de partida para os sertões do Rio de Janeiro, onde os jesuítas haviam estabelecido seus engenhos de açúcar: São Cristóvão, Engenho Velho, Engenho Novo, Engenho de Dentro e as mais distantes São Tiago de Inhaúma, Nossa Senhora da Conceição de Irajá, Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande e São Salvador de Guaratiba.
Deste modo, considerando especialmente o chamado Caminho de Capeuruçu (atual Rua da Alfândega), que ligava a área do aglomerado urbano aos engenhos mencionados, pode-se afirmar que a Rua Direita definia o que era o centro da cidade. O ponto a partir do qual a cidade se irradiava e crescia era a Rua Primeiro de Março e seu entorno como um efetivo Centro da Cidade.
Face à descoberta do ouro na Capitania das Minas Gerais a partir do século XVIII, o Rio de Janeiro passa a ser capital e esta importância reflete-se quase que imediatamente na Rua Direita. Além dos deslocamentos de comércio e poder para ela, edificações ligadas ao poder real rapidamente foram erguidas, como o pelourinho e a Casa de Correção e Cadeia, fazendo com que o terreno vizinho ao Paço fosse chamado também de Terreiro da Polé. Teve também trechos de comércio elegante, principalmente impulsionados pela vinda da familia Real portuguesa para o Brasil em 1808. Este trecho que era mais largo, situado entre Igreja do Carmo, e Rua do Ouvidor, ou seja depois do Beco dos Barbeiros. Foi neste local onde se instalaram inúmeras confeitarias, cafés e restaurantes que atraiam clientes das classes sociais mais altas. A mudança não se tratava apenas de estabelecer um eixo de poder na cidade ou mesmo na capital do Vice-Reino, mas sim em transformar a cidade na capital do Reino do um império ultramarino. Não mais vice-reis, mas o próprio Rei se fazia presente no Rio de Janeiro, muda-se a condição política da cidade e com isso, muda-se os quadros mentais da sociedade.
Na Rua Direita , foram criados por D. João VI o primeiro banco brasileiro, um embrião do Banco do Brasil (atual Centro Cultural Banco do Brasil) no ano de 1808 e os Correios no trecho próximo ao sítio no qual se construiu a Igreja de Nossa Senhora da Candelária. Ao norte, se estabeleceram o Arsenal e a guarnição navais, onde atualmente situa-se o comando do I Distrito Naval. Essas edificações são marcos expressivos do patrimônio arquitetônico construído após a vinda da Família Real Portuguesa ao Brasil.
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Centro Cultural Banco do Brasil
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Prédio dos Correios e Telégrafos
Foi em 1870 que a Rua Direita teve seu nome mudado para Rua Primeiro de Março, em homenagem ao fim da Guerra do Paraguai, data que coincide com o aniversário de fundação da Cidade do Rio de Janeiro em 1565.
O advento da República no final do século XIX não mudou a importância da Rua, quer no aspecto da presença do poder, visto a Câmara dos Deputados localizar-se no antigo edifício da Casa de Correção e Cadeia – reconstruído em estilo eclético pelo arquiteto Archimedes Memória, no início da Rua, quer no sentido da importância quanto à sua implantação na malha viária da cidade, tornando-se intensa via de passagem de veículos de toda sorte, especialmente transporte particular e coletivo (estes, interligando as zonas sul e central, sul e norte e central e norte da cidade), além de intenso tráfego de pedestres, não apenas trabalhadores e usuários dos bens e serviços dos arredores da Rua, como também em busca do serviço de transporte aquaviário ligando a Praça XV de novembro e a cidade de Niterói, sobretudo, mas também ligando a Praça XV e as Ilhas de Paquetá e do Governador.
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Palácio Tiradentes - Câmara dos Deputados
Na década de 1980, das torres do Centro Candido Mendes exatamente em frente ao tombado Paço Imperial e em terreno no qual se localizava o Convento dos Carmelitas, parte do qual, preservada e tombada, abriga instalações da Universidade Candido Mendes.
A parte final da Rua, próxima à Rua Dom Gerardo, no sopé do Morro de São Bento, passou por intervenções profundas, como parte do Projeto Porto Maravilha, com a escavação de um túnel subterrâneo que liga a Primeiro de Março à Av. Rodrigues Alves, que margeia o Porto do Rio, passando sob as instalações da Marinha do Brasil.
A Rua Primeiro de Março é uma das mais importantes vias de trânsito e circulação de transeuntes no Centro do Rio de Janeiro, e guarda edificações que representam a multissecularidade da história da Cidade. Edifícios cuja tipologia data do período colonial, do período imperial e da história republicana do Brasil convivem em harmonia no mesmo espaço urbano ao longo de seu quase 1 km de extensão.
Cada ponto turístico citado será comentado em outros posts em separado.
REFERÊNCIAS
Santos, João Henrique dos; Marins, Nathalia Borghi Tourino Uma Rua Chamada Direita: Arte e Patrimônio no Rio de Janeiro. XXVIII Simpósio Nacional de História. Florianópolis. 2015
https://www.riodejaneiroaqui.com/portugues/rua-primeiro-de-marco.html
https://www.rio450anos.com.br/rua-direita-a-principal-rua-do-rio-colonial/
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