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TURFE - O PIONEIRISMO ELEGANTE DO ESPORTE NO RIO DE JANEIRO

Foto do escritor: danielericcodanielericco

A modalidade teve origem no Egito e na Grécia Antiga, com registro de disputa nos Jogos Olímpicos de 648 a.C. Na Idade Contemporânea, a partir século XVII, a Inglaterra foi considerada o berço do turfe, que é a corrida de cavalos conduzidos por um jóquei ou uma joqueta. A modalidade é sempre disputada em pistas ovais, de grama ou areia, com cada animal correndo em uma raia. Com a popularização das corridas, os cavalos passaram a ser o alvo das atenções, e os ingleses começaram a importar os animais de diversas partes do mundo, principalmente do Oriente Médio e da África. Dessa forma, eles também realizavam cruzamentos para obter um espécime perfeito para as corridas: os famosos cavalos puro-sangue.

Já no Brasil, a prática esportiva chegou no século XIX praticamente junto com a Corte Portuguesa, trazido pelos ingleses e teve as primeiras corridas realizadas no Rio de Janeiro, na década de 1810, nas areias da Praia de Botafogo. Foi o primeiro esporte (no sentido moderno) a realmente se estabelecer no Brasil e também o que apresentou primeiramente uma organização mais estruturada e uma forte inserção social. O Derby Club foi criado em 1850, quando a cidade vivia a febre do turfe e tinha quatro hipódromos grandes, além de inúmeros outros pequenos, às vezes simples terrenos baldios nos subúrbios. Quando as corridas saíram de moda, o Derby foi absorvido pelo Jóquei Club Brasileiro (Hipódromo da Gávea) e a sua enorme propriedade ficou abandonada.

Desde os prímórdios do turfe no Brasil até 1872, as apostas em cavalos no Rio de Janeiro eram feitas de maneira informal, geralmente pelos donos dos animais e alguns frequentadores de corridas. A partir de 1872, no entanto, passaram a ser controladas pelo Jockey Club e realizadas dentro de suas dependências. Mais que um esporte, o turfe era um evento social restrito à aristocracia, com ampla cobertura da imprensa. Ser sócio dos clubes de corridas significava prestígio social. Vem dessa época o costume ainda atual das mulheres chamarem a atenção, nos grandes prêmios, ao trajarem figurinos elegantes - principalmente chapéus. Baseado nos exemplos da França e principalmente da Grã-Bretanha, os regulamentos e os clubes de corridas repetiam na íntegra inclusive os argumentos para o desenvolvimento de um turfe nacional: proporcionar uma diversão para a população e desenvolvimento da 'raça cavalar brasileira', considerada de menor valor perante as raças européias e argentinas. Por trás desses argumentos altruístas estava um jogo muito mais profundo. O desenvolvimento dos clubes esportivos foi uma possibilidade clara de a burguesia ascendente encontrar meios de distinção e status social, além das grandes possibilidades de negócio que surgiam ao redor das corridas. Diretamente, como serviços prestados nos hipódromos, dinheiro obtido em apostas, prêmios com os cavalos, etc.; ou indiretamente, funcionando os hipódromos como locais privilegiados de negócios




Para as mulheres, as práticas esportivas tiveram um significado muito importante. Até meados do século XIX, a estrutura extremamente conservadora da sociedade não permitia às mulheres grande movimentação. A partir de meados do século XIX esse quadro começa a paulatinamente mudar. Chegavam da Europa os ecos das lutas femininas e um novo modelo de mulher, mais vaidosa e mais presente na vida social. A mudança foi lenta e mais significativa para as mulheres das camadas mais ricas da sociedade e também foi influenciada pela vinda de companhias de teatro européias, com sua mulheres lindas e livres. Logo a mulher brasileira, que antes mal podia sair para sua presença semanal à Igreja e à missa, passou a frequentar bares, rodas de intelectuais e poetas e até algumas festas e eventos sociais. Obviamente estamos nos referindo a um grupo de mulheres avançadas para sua época. As instalações esportivas passaram a ser locais bastante frequentados por mulheres. O esporte significava uma possibilidade de participação permitida, já que era considerada de caráter aristocrático, familiar e saudável. Nas instalações e eventos turfísticos, as mulheres estavam sempre presentes, acompanhando seus maridos e desfilando seus vestidos de última moda. Para as solteiras era sendo até mesmo possibilidade de flertar.





Os hipódromos 'nobres' eram o Derby Club (Maracanã) e o Jockey Club (Engenho Novo), depois vinham os populares, como o Prado Fluminense e o Prado Guarani, este em São Cristóvão. Nas pistas modestas corriam cavalos desconhecidos ou "aposentados". Invariavelmente, os jóqueis eram negros magros e habilidosos. Os prados populares, organizados por pequenos comerciantes e militares de baixa patente, rivalizavam com os grandes clubes devido aos preços mais baixos de entradas e apostas, além de terem ambiente informal e corridas mais animadas. Devido à própria necessidade de desenvolvimento do campo esportivo, foi permitido às classes populares o acesso aos clubes de corrida. A presença da população era realmente notável e as corridas de cavalos tinham grande significado para a cidade. O esporte podia ser considerada uma atividade popular, mas somente se fosse considerado o aspecto do consumo do espetáculo esportivo. As oportunidades de prática de esportes eram bastante limitadas, ainda mais para os indivíduos das classes populares. Esses somente tinham acesso se demonstrassem algum tipo de 'talento esportivo'.


Localização antiga do derby Clube, hoje complexo do Maracanã. Área delimitada corresponde à aldeia Maracanã, antigo Museu do Indio

Tentando conter a concorrência, os grandes clubes proibiram os "seus" cavalos de correr nos prados populares, e o frequentador visto nos clubes pequenos era impedido de entrar nas agremiações nobres. Muitos clubes faliram em função destas restrições e o povo começou a perder o interesse pelo esporte, acarretando o fechamento definitivo dos prados e a fusão dos grandes - Derby Club e Jóquei da Gávea.

A modalidade, contudo, se popularizou a partir da década de 1930, com o surgimento do Jockey Club Brasileiro (no hipódromo da Gávea, em 1932, com a fusão de dois clubes promotores de corridas de cavalos: o Derby Clube e o Jockey Clube). Na década de 1940, a área do Derby Clube, abandonada, se transformou na Favela do Esqueleto (4 mil barracos e 12 mil pessoas), a partir da obra abandonada do Hospital das Clínicas da Universidade do Brasil. Em 1949, teve início a construção do estádio do Maracanã e do campus da UERJ. Os favelados foram removidos para a Vila Kennedy. O turfe entrou decadência em 1960. Naquele ano, o então presidente Jânio Quadros confinou os páreos aos fins de semana, proibiu a entrada de menores de 21 anos nas dependências dos hipódromos e criou postos para receber apostas fora dos locais de corrida.

Atualmente o esporte não conta com tanta popularidade, mas continua firme e forte e tem o status de “esporte de elite”, sendo movido principalmente pelas apostas que nele são realizadas. As disputas realizadas são chamadas de páreo, e em competições no Jockey Club, por exemplo, são realizados vários páreos. Entre eles, há um intervalo para que as apostas sejam realizadas. No Brasil está prática esportiva é regularizada através da Lei 7291/84, que prevê uma regulamentação desde o recolhimento das apostas, até a criação dos cavalos. O Jockey Club Brasileiro, localizado junto à Lagoa Rodrigo de Freitas, é o palco mais tradicional do turfe no país e promove corridas de cavalo do puro sangue inglês. O hipódromo está integrado a uma área de 640 mil m² e sedia o maior evento de corridas de cavalo do país, o GP Brasil. O Hipódromo da Gávea destaca-se por sua arquitetura. O espaço conta ainda com o clube social, escola primária, escola de profissionais do turfe, teatro, 8 restaurantes, galerias de arte, além de ser palco de diversos eventos.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Melo, Victor de Andrade de Melo. POSSÍVEIS REPRESENTAÇÕES SOBRE O TURFE NA SOCIEDADE CARIOCA DO SÉCULO XIX. Lecturas: Educación Física y Deportes. Año 3, Nº 9. Buenos Aires. Marzo 1998

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